ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Polo de Produção Cinematográfica: da prática ao conceito |
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Autor | André Ricardo Araujo Virgens |
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Resumo Expandido | O mercado cinematográfico, conforme conhecemos hoje, começou a se consolidar em meados do Século XX. Esse modelo, que se convencionou chamar de “industrial”, representa aquele que se tornou hegemônico no mundo ou, utilizando termos de Guy Hennebelle (1978), deu origem a uma concepção de cinema atualmente dominante, tanto em padrões estéticos, quanto na forma de lidar com meios, processos e forças produtivas.
Hollywood surge como um marco fundamental para o raciocínio que desenvolvemos aqui, porque foi a primeira iniciativa que desenvolveu a produção cinematográfica a partir de um “polo de produção”. Isso significa dotar determinada região de infraestrutura técnica e de mão de obra especializada para o desenvolvimento de uma atividade econômica. Conforme aponta Silva (2009, p. 61): "Tal condição hegemônica deve ser entendida como resultado do modelo industrial adotado em Hollywood, através da concentração sistemática de insumos, recursos artísticos e técnicos, somados a grandes aportes de capital, dispostos num mesmo local para as mesmas atividades, possibilitando operações de produção-distribuição em grande escala mundial". Esse modelo acabou sendo exportado para o mundo. E, nesse contexto, este trabalho tem como objetivo discutir a noção de polo de produção cinematográfica a partir do modo como ela vem sendo aplicada no Brasil. Isso mesmo entendendo que possíveis comparações entre as experiências americanas e brasileiras devam ser feitas com ressalvas, pelas diferenças de contexto. Para promover essas reflexões, partimos de um estudo anterior realizado pelo autor que analisou as experiências adotadas em três cidades: Rio de Janeiro-RJ; Brasília-DF e Paulínia-SP. Esses locais foram listados por um critério que levou em consideração o mapeamento de iniciativas que se desenvolvem com a adoção de políticas institucionalizadas no campo cinematográfico. Consideramos que essa institucionalização se apresenta de duas formas: com a existência de uma estrutura organizacional responsável pela manutenção/gestão desse polo, e pela constituição de marcos legais e mecanismos de gestão, numa inter-relação entre setores público e privado. Além disso, também optamos por analisar aquelas que estão há mais tempo em funcionamento e /ou que tenham mais subsídios para debate. Essa opção metodológica denota uma posição do autor sobre o que poderia, a priori, ser entendido como um “polo de produção cinematográfica”. Consideramos essa uma reflexão importante, pois, nos últimos anos, tem sido comum surgirem notícias sobre a constituição de novos “polos de cinema” no país, banalizando e pouco se refletindo sobre esse conceito. Assim, para além da realização de ações pontuais, partimos da ideia de que a constituição de uma iniciativa dessa natureza perpassa pela conjunção de uma série de ações estratégicas e continuadas. Entendemos, também, que elas surgem como mais uma tentativa de consolidar um padrão industrial de produção no país, mentalidade presente em praticamente toda história do cinema brasileiro. Insistimos na permanência dessa ideologia aqui, porque a própria noção de “polo” surgiu com os estudos econômicos sobre arranjos desenvolvidos por indústrias tradicionais. Além disso, veremos que o padrão hegemônico de produção continua inspirando essas “novas” iniciativas. Assim, para além das críticas aos processos analisados, e numa primeira tentativa de sintetizar essas experiências, optamos por compreender um polo de produção cinematográfica como um arranjo institucional, seja do campo público ou do campo privado, organizado de forma a desenvolvê-la a partir de determinada região/território, perpassando a implementação, em geral, de ações de quatro naturezas: apoio logístico, financiamento e desoneração fiscal, formação de mão de obra e de público fruidor e estímulo à realização de eventos do setor. Uma proposta inicial de conceito que pode ser mais bem problematizado com a análise de outras experiências concretas. |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. Campinas: Unicamp, 2004.
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