ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A "brodagem" e a crítica audiovisual em Pernambuco |
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Autor | Fernando Weller |
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Resumo Expandido | Entende-se por “brodagem”, o que MANSUR (2009) chama de “jogo de reciprocidade e interesses pessoais no qual estão envolvidos diversos grupos: os jornalistas, os músicos, os cineastas, os profissionais técnicos, as produtoras, colaboradores” (MANSUR, 2009, p. 77). Segundo a autora, a produção local é marcada por “laços de interesses pessoais” cujo valor estratégico reside na superação de precariedades orçamentárias e estruturais na produção independente do Estado. A produção local é marcada (como em outras cenas audiovisuais independentes) por cooperações afetivas, alianças de amizade e de família: “os diretores se reconhecem como parte de um grupo de amigos que trabalham juntos”, afirma a autora. Dadas as precárias condições materiais do circuito de produção local, a brodagem torna-se uma estratégia eficaz para viabilizar uma produção audiovisual cujos padrões de excelência permitem circulação e receptividade nacional e internacional. É, portanto, apoiado na “brodagem” como método de produção, que o audiovisual pernambucano se insere no mapa do cinema nacional e mundial.
Embora seja um valor estratégico no âmbito da produção audiovisual, é preciso avançar sobre a conceituação do termo utilizado na linguagem da comunidade de produtores pernambucana no sentido de compreender as suas implicações culturais e políticas. Particularmente, interessa-nos a relação que se estabelece entre os agentes produtores do audiovisual pernambucano e o campo heterogêneo da chamada crítica cinematográfica. Entre esses campos, os laços de amizade e família não se configuram enquanto aspectos positivos que visam a superação de obstáculos econômicos e tendem a dissolver a relevância crítica dos textos voltados para a análise dos filmes. Além disso, a chamada brodagem pode ser compreendida como uma herança contemporânea do complexo de relações históricas coloniais que, no Brasil, promove a hipertrofia das relações afetivas e da esfera privada sobre o domínio das relações profissionais na esfera pública, problemática que já foi tema das análises clássicas da sociedade brasileira em geral e pernambucana, em particular. (FREYRE, 1980; HOLANDA, 1999). SANTANA (2011) cunhou a termo “jornalismo cordial” para compreender as relações colaborativas entre as assessorias de imprensa e o jornalista. Segunda a autora: “O jornalismo dito cordial é capitaneado por profissionais que, relegando apuração e compromisso com a busca dos fatos, numa postura de agradar a todos (ou não desagradar a ninguém), acaba por não cumprir sua função social de investigador e responsável por levantar e disseminar informações do interesse dos cidadãos". (SANTANA, 2011, p. 94). Nossa intenção é aproximar os sentidos do termo “brodagem” proposto por Mansur e “jornalismo cordial” discutido por Santana de modo a compreender de maneira crítica as interrrelações entre os agentes da produção e da interpretação e medicação simbólica dos produtos audiovisuais pernambucanos contemporâneos. Segundo BOURDIEU (1997) as disputas num determinado campo artístico/cultural entre os diversos grupos que o compõem, visam em última instância o monopólio das instâncias de legitimação artística. Sugerimos então uma reflexão a respeito como as obras produzidas em Pernambuco nos últimos anos foram avaliadas pela crítica cultural local. Pretendemos, com isso, mapear contradições e paradoxos do modelo de produção conhecido como “brodagem”. Partimos da hipótese de que a produção colaborativa, sustentada por relações de cunho privado e afetivo entre os agentes, ao mesmo tempo que viabiliza a produção local, representa a continuidade histórica de um modelo de relações patrimonialistas e cordiais enraizadas em hábitos pré-modernos. Que marcas e implicações deste fenômeno podemos observar na crítica local? Será que podemos estabelecer nexos que expliquem essa atrofia da crítica nos jornais pernambucanos? |
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Bibliografia | BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007.
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