ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O trânsito de corpos e os “usos” do Brasil no cinema transnacional |
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Autor | João Luiz Vieira |
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Resumo Expandido | A pesquisa investiga teorias contemporâneas do cinema transnacional a partir de estratégias atualizadas na indústria que remontam às co-produções, um fenômeno nada novo. O que torna este tema urgente e atual diz respeito, na área dos estudos cinematográficos, a questões complexas envolvendo mobilidade migratória, narrativas de viagens, deslocamentos, fluxo dos corpos, o gênero road movie, entre outras questões. O ponto de partida é o mais recente filme de Karin Ainöuz, “Praia do Futuro" (2014), co-produção entre Brasil e Alemanha. Um dos objetivos é trazer novos insights que tratam de políticas sexuais de gênero que, por sua vez, se inserem em um campo mais amplo de “estudos cinematográficos transnacionais comparativos”, interpelando as instabilidades de estratégias mais flexíveis de co-produção. "Praia" vai além do tratamento mais convencional dos usos do Brasil na indústria transnacional do turismo sexual como testemunhamos em produções contemporâneas, especialmente do gênero “pornô gay x rated”, incluindo nacionais. Ainöuz não é um estranho neste ninho. Em 2002, o diretor causou impacto aqui e no estrangeiro com o reconhecimento de púbico e de crítica para “Madame Satã”, filme biográfico (biopic) que já problematizava linhas rígidas entre comportamentos “machos“ e “gays” na Lapa carioca da década de 1930. Em “Praia", ele parte das praias ensolaradas do Nordeste em busca da exploração de um romance gay em um “road movie” transatlântico envolvendo um brasileiro e um alemão, no qual, entre outras preocupações temáticas e estéticas, questiona noções de identidade e, a partir de um ponto de vista “brasileiro”, problematiza a tênue fronteira onde o transnacional converge e atravessa os fluxos de corpos entre o Sul e o Norte. Do ponto de vista metodológico, combinam-se perspectivas multiculturais e transdisciplinares, tentando evitar um novo binarismo nas articulações entre o nacional e o transnacional e propor, assim, uma perspectiva trans-latina sob o signo de temporalidades e mobilidades queer e não apenas como mais um “outro” em relação a platéias internacionais, a Hollywood e a globalização. Busca-se uma tentativa de diferenciar o nacional no transnacional e vice-versa, de forma a abordar os dois conceitos como uma imbricação recíproca, uma fertilização mútua. A ênfase cairá sobre questões de identidade, classe, gênero, raça, etnia, sexualidade, afiliações, identificações e experiências que impactam nosso entendimento da mídia e espectatorialidades transnacionais a partir de questões sobre identificações minoritárias através de fronteiras, incluindo as nacionais. A experiência de se assistir “Praia do Futuro” nos autorizaria a falar, a partir de Raymond Williams, em “estruturas analógicas de sentimento (feeling)" através de regiões, espaços e identidades nacionais? Como o cinema reflete e transforma a identidade cultural e também molda novas formas de subjetividade? A insistencia em questões como o tráfico de drogas, prostituição, crianças de rua e turismo sexual continuam síntomas que fornecem “autenticidade” a representações de problemas da América Latina (“Cidade de Deus”, “Pelo Malo”, “Sete caixas”, “Anjos do sol”, entre outros). “Praia do Futuro” opera sobre um regime de estrelismo transnacional recente que atualiza uma tradição existente desde os anos de 1920 e opera uma rede de conexões que atravessam comunidades, sociedades e nações em termos de raça, gênero, sexualidade e outros eixos de identidade. Parte do ambiente familiar fechado da periferia de Fortaleza e vai para espaços mais liberadores, como as ruas de Berlim, confundindo configurações espaciais que desestabilizam binarismos genéricos de espaço, de si e do outro, de dentro ede fora, interior e exterior, mar e terra, homem e mulher, criança e adulto, num proceso de renegociação constante de instâncias identitárias. E amplia o conhecimento da representação de sujeitos periféricos como o “outro”, ao expressar complexos fluxos de mobilidade transnacional. |
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Bibliografia |
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