ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Topografia da memória: reminiscências poéticas em Diário de Sintra |
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Autor | CRISTIANE MOREIRA VENTURA |
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Resumo Expandido | Dentro do atual cenário da produção de documentários é possível perceber uma tendência em se trabalhar com a autorreferencialidade. Os filmes produzidos sob essa tendência têm como proposição a enunciação em primeira pessoa, e muitos têm como dispositivo a busca por assuntos pessoais ou familiares, o que leva o diretor, muitas vezes, a recorrer a materiais de arquivo, como álbuns e filmes de família. A partir dessa premissa, tomamos para análise o documentário Diário de Sintra (2007), dirigido por Paula Gaitán. A diretora realiza uma viagem a Sintra (Portugal) em busca de suas recordações referentes aos momentos vividos naquele espaço há 25 anos. Compreendemos que tal reencontro com Sintra visa trazer à memória o período em que lá vivera com sua família, enfatizando a recordação dos últimos momentos de vida de seu marido, o cineasta Glauber Rocha. Assim, o presente trabalho empreende analisar como Paula Gaitán transpõe suas memórias e “performa” sua busca reminiscente por meio da linguagem cinematográfica, construindo, dessa forma, um ensaio sobre a memória.
Ao definirmos o título, Topografia da memória: reminiscências poéticas em Diário de Sintra, tivemos em vista as noções acerca da memória e sua relação com o espaço. Desse modo, temos como referência os estudos relacionados a memória e espaço, de Gilles Deleuze e Gaston Bachelard, entre outros autores, que possibilitam um percurso metodológico que pretende analisar a dimensão poética contida nas reminiscências “performadas” e representadas no corpus da pesquisa. A estratégia metodológica adotada para a análise do documentário consiste em estabelecer um gesto cartográfico ao percorrer os diferentes tempos dispostos no filme, a fim de identificar elementos característicos de cada linha temporal. Sendo essas: tempo pasado (registros de 1981), tempo presente (ação de busca) e tempo futuro (imagens poéticas). Analisamos como esse material justaposto influencia em uma leitura geral de uma sequência e do filme como um todo. Para tanto, elegemos três sequências com a finalidade de analisar como se dá a confluência destes diferentes registros temporais. Ao traçamos uma analogia com o “olhar topográfico”, propomos algo como a observação por meio de um teodolito, desse modo, seria possível visualizar a posição das diferentes superfícies sedimentadas (como o princípio geológico de sobreposição de camadas) pelo processo de formação e armazenamento da memória, impressas em imagens no documentário. E, por meio desta breve decomposição das três sequências, torna-se possível esboçar um desenho topográfico das oscilações entre os diferentes planos temporais. Acreditamos que seja possível aplicar tal lógica cartográfica e topográfica para se analisar outros filmes que possuem uma estrutura análoga à Diário de Sintra, como documentários que apresentem essa busca ao passado valendo-se do espaço e materiais de arquivos para a transcrição das reminiscências para a linguagem fílmica. |
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Bibliografia | BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Trad. Antônio da Costa e Lídia Valle Santos. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado Tijuca Ltda, 1989.
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