ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Ressonâncias latino-americanistas no cinema de Aloysio Raulino |
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Autor | Victor Ribeiro Guimarães |
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Resumo Expandido | Como se sabe, a busca por um diálogo entre as cinematografias da América Latina – com o reconhecimento de um núcleo comum de preocupações políticas e estéticas, a retomada do repertório cultural da região e a tessitura de redes entre os cineastas– foi uma das apostas fundamentais do movimento que ficou conhecido como Nuevo Cine Latinoamericano. Essa postura latino-americanista pode ser encontrada tanto nos manifestos mais célebres do movimento – como Hacia un tercer cine, de Fernando Solanas e Octavio Getino, ou Por un cine imperfecto, de Julio García Espinosa – quanto em vários filmes da época.
No que tange ao cinema brasileiro, no entanto, a adoção de uma postura semelhante pelos cineastas é algo bastante raro. Há, claro, a conhecida e luminosa exceção de Glauber Rocha, mas seria difícil encontrar um latino-americanismo desenvolvido e recorrente na obra de muitos realizadores. Mesmo entre cineastas que tiveram certo papel na fundação do NCL – casos de Geraldo Sarno e Eduardo Coutinho, participantes do Festival de Viña del Mar em 1967 –, a vocação latino-americanista dificilmente chega ao cerne das obras. Buscando contribuir para o preenchimento de uma lacuna que nos parece relevante, este trabalho procura estudar as ressonâncias de uma atitude latino-americanista na filmografia de Aloysio Raulino, cineasta cuja obra autoral ainda não faz parte dos principais cânones do cinema brasileiro. A partir da análise de dois filmes-chave de sua filmografia– Lacrimosa (1970), um dos primeiros curtas, e Noites Paraguayas (1982), seu primeiro e único longa-metragem –, buscamos mapear como o cineasta constrói um latino-americanismo bastante próprio, tanto em termos temáticos quanto formais. Algumas perguntas se colocam como prioritárias: como certo repertório cultural da região é trabalhado nesses filmes? Em que medida o manancial ideológico e teórico do NCL irriga a obra de Raulino? Que diálogos formais podemos encontrar entre seus filmes e os de cineastas como Fernando Birri e Santiago Álvarez? Será interessante observar, por exemplo, como Raulino se serviu frequentemente de um repertório musical e poético latino-americano, que vai de canções típicas do norte da Argentina à poesia do chileno Ángel Parra, da milonga portenha à guarânia paraguaia. Em Lacrimosa, o acionamento desse repertório funciona como contraponto alegórico à encenação documental de uma realidade bem paulistana, fazendo conviver as cenas na Marginal Tietê e na favela à beira da estrada com as intervenções abruptas de excertos musicais e poéticos que deslocam o sentido primeiro das imagens. Já em Noites Paraguayas, todo o edifício ficcional se ergue a partir de uma atitude francamente latino-americanista. O filme narra a história de um jovem camponês paraguaio que se associa a um trio de músicos locais para tentar a vida em São Paulo, cuja trajetória será atravessada por encontros com personagens diversos: os familiares paraguaios, os índios guarani, um garçom nordestino, os operários da construção civil. Num filme em que mais da metade dos diálogos é falada em língua guarani, Raulino não se furtará a misturar a guarânia às canções de Odair José, nem a leitura de Vidas Secas por um operário a um esquete brechtiano sobre a Guerra do Paraguai. Outro foco de análise são os modos pelos quais as reflexões dos manifestos do NCL ressoam no cinema de Raulino. Interessa particularmente observar como o emblema do povo – tão fundamental naqueles textos – se atualiza e se metamorfoseia nos diferentes filmes. Por último, buscaremos discutir afinidades políticas e formais entre Raulino e cineastas como Fernando Birri – a busca por sujeitos em situação de marginalidade social, a devolução do olhar do outro como principio composicional e ético – e Santiago Álvarez – a associação ensaística entre o material documental e a intervenção de excertos poéticos e musicais, a montagem que tende à verticalidade e ao lirismo. |
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Bibliografia | AVELLAR, José Carlos. A ponte clandestina: Teorias de Cinema na América Latina. São Paulo: Ed. 34/Edusp, 1995.
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