ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Rogério Sganzerla e o cinema que pensa e experimenta o ensaio |
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Autor | Régis Orlando Rasia |
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Resumo Expandido | Ensaio-fílmico é uma forma que pensa e experimenta o cinema por meio de imagens e sons. Antonio Weinrichter (2007, p.26) cita que “um ensaio pode vir assinado por um cineasta experimental”. Quer dizer, experimental e ensaio são territórios compósitos do cinema, um não exclui o outro.
O experimental pode ser legitimado nos filmes de Rogério Sganzerla como O bandido da luz vermelha (1968), A mulher de todos (1969), Copacabana mon amour (1970), Sem essa aranha (1970) e Abismu (1977). Perguntado sobre o rótulo de “cineasta marginal”, por exemplo, ele respondeu: “Não! Eu acho que o Brasil é que é marginalizado [...] Nós acreditamos que o nome certo para esse movimento é experimental” (SGANZERLA, 1987, p.98). A raridade nos estudos de cinema nos filmes de Sganzerla se dá sobre a noção de ensaio. Ele foi um dos primeiros cineastas-críticos no Brasil, ainda de forma prototípica, que abordou o ensaísmo (“Cinema Impuro?”, 1966). Como efeito desta reflexão seu primeiro filme Documentário (1966) jogaria com os domínios da ficção e do documentário. O ensaio, conceito que nos debruçaremos nesta comunicação é recente, se prolifera nos estudos de audiovisual, sem contar com festivais, filmes e autores que se rotulam como ensaístas. É sem dúvida, uma forma ainda a ser decifrada, que não se esforça em ser narrativo, ultrapassa a ficção e tampouco pertence ao documental. De difícil encaixe nas categorias estabelecidas, há quem o aproxime do cinema experimental. Este último, como se sabe, não menos difícil de ser apreendido como forma. Para Weinrichter (2007, p.13), uma obra ensaística cumpre os seguintes requisitos: “Não propõe uma mera representação do mundo histórico, mas uma reflexão sobre o mesmo, criando um caminho em seu próprio objeto (não se limita ao seguimento de uma realidade preexistente)”; “Privilegia a presença de uma subjetividade pensante (deve existir uma voz reconhecível) e emprega uma mescla de materiais e de recursos heterogêneos (comentário, materiais de arquivo, entrevistas, intervenção do autor) que acabam criando uma forma própria”. Grande parte de seus filmes pós-período marginal e com o avançar da década de 80 se aproximaram do conceito. Os mais conhecidos Isto é Noel (1990) e o curta Noel por Noel (1981); a tetralogia wellesiana com Nem tudo é verdade (1986), Linguagem de Orson Welles (1991), Tudo é Brasil (1997) e O signo do Caos (2003). Entretanto, são os seus “filmecos” - curtas-metragens, inacabados, de baixo orçamento e pouco abordados nos estudos de cinema - os mais intrigantes na apresentação de um estilo ensaístico. É o caso de Viagem e Descrição do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (1976), Ritos Populares – Umbanda no Brasil (1977), Brasil (1981), E o petróleo nasceu na Bahia (1982-81) e Irani (1983). Como outra característica para pensarmos o ensaio em sua filmografia são as experimentações com as diferentes bases técnicas, no caso as “bitolas menores” do super 8 no filme co-dirigido com Jairo Ferreira Horror palace hotel (1978); vídeo e digital: Anônimo e incomum (1990, vídeo) A alma do povo vista pelo Artista (1990, vídeo), América, o Grande Acerto de Vespúcio (1992) e Informação: H. J. Koellreutter (2003). Propomos então analisar a filmografia de Sganzerla sob os seguintes tópicos: indiscernibilidade dos territórios do cinema; auto inscrição; um cinema que se coloca entre o subjetivo e objetivo; o gesto de voltar a ver as imagens: (re) apropriações e (re) utilização de materiais de arquivos; montagem de agenciamentos: uso de múltiplos materiais, colagens, animação e table top; às passagens e experiências com as diferentes bases de captura (película, vídeo e digital) etc. Buscaremos falar da forma como Sganzerla articula materiais diversos e como estes agenciamentos se integram ao fluxo de seu pensamento. Esta forma (e não fôrma) que ele experimenta, é o ensaio. |
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Bibliografia | DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo Ed: Cosac Naify, 2004, 324p.
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