ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Direção de Arte e visualidade no audiovisual brasileiro |
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Autor | Milena Leite Paiva |
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Resumo Expandido | Na produção audiovisual brasileira, a Direção de Arte pode ser definida como a função que, em parceria com a Direção de Fotografia, é responsável pela concepção da visualidade de uma obra cinematográfica ou televisiva, atuando na transcrição do roteiro em materialidade cênica, ou seja, nos elementos envolvidos no planejamento conceitual do espaço cênico, do figurino e da maquiagem, e na estruturação da encenação proposta pela direção, corroborando, assim, a construção de universos diegéticos verossímeis e a caracterização das personagens que ocupam e interagem nestes espaços.
Uma função originada essencialmente de necessidades decorrentes dos processos produtivos cinematográficos, a adoção do termo Direção de Arte no cinema brasileiro, no início da década de 1980, inaugura uma nova perspectiva profissional no meio, com a reestruturação hierárquica das equipes e uma revisão de processos, o que resulta em ganhos qualitativos na concepção das imagens e na conceituação estética de visualidades. A televisão posteriormente se referencia neste padrão funcional e introduz a função nas suas produções, adequando-a, contudo, às particularidades das suas estruturas organizacionais. As distinções formais entre as linguagens do cinema e da televisão, contudo, não determinam uma diferença conceitual da Direção de Arte, já que em ambos os meios, a função é concebida como atividade projectual de criação de visualidades. Assim, embora no cinema a Direção de Arte possa alcançar um espaço maior de refinamento e experimentação se comparado ao da televisão, as diferenças mais perceptíveis entre os dois meios são aquelas relativas à estrutura de atuação profissional, na qual nomenclaturas, hierarquias e processos de trabalho podem divergir consideravelmente. No contexto específico do audiovisual brasileiro, enquanto os princípios comerciais da televisão determinam uma organização mais industrial do trabalho da equipe de arte, estruturada por um quadro fixo de funcionários e pelo acesso a estúdios, acervos e departamentos exclusivos, no cinema, as equipes, contratadas a cada novo projeto, não contam com uma estrutura permanente de instalações, materiais e mão-de-obra, e seus processos são definidos, assim, por uma perspectiva mais artesanal da produção. Com base nestes dados, o presente trabalho apresenta uma investigação dos processos da Direção de Arte televisiva, com especificidade nas particularidades da cadeia produtiva da teledramaturgia da Rede Globo de Televisão. Definiu-se, para tanto, como objeto de estudo, a minissérie Suburbia (2012), do diretor Luiz Fernando Carvalho, com o propósito de, a partir da análise da visualidade desta obra, definir o papel conceitual da função na construção do seu estilo. Considerado atualmente um dos diretores mais inventivos e inovadores da televisão brasileira, Carvalho apresenta um percurso criativo inusitado dentro da Rede Globo. Da experiência dos seus primeiros trabalhos na emissora, concebidos nos moldes tradicionais da produção de teledramaturgia, o diretor optou por seguir novos direcionamentos estéticos nas suas obras, para além das regras e dos manuais, questionando os formatos e padrões televisuais, e conquistando progressivamente uma ampliação de espaços de criação na tevê, tanto estruturais quanto discursivos. No conjunto das suas produções é possível vislumbrar não somente opções conceituais e estéticas inovadoras, que seguem uma perspectiva experimental, e, por vezes, radical, da construção da materialidade cênica, determinando a impressão de traços autorais nas suas obras; mas também, e, sobretudo, os resultados visuais de um uso diferenciado das técnicas e processos produtivos da Direção de Arte televisiva. Das minúcias dos detalhes à composição das imagens, as equipes de arte seguem a uma opção metodológica diferenciada da lógica industrial televisiva, pautada por práticas artesanais, aproximadas aos procedimentos cinematográficos. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 1993.
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