ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Cartografias possíveis para o cinema independente no Brasil |
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Autor | Maria Cristina Couto Melo |
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Resumo Expandido | As reflexões acerca do cinema independente atravessam a história do desenvolvimento da atividade cinematográfica nacional, no que se refere às questões éticas e estéticas de representação e às estruturas de produção e condições de mercado.
A expressão “cinema independente” se conecta a diversas práticas de realização e difusão comerciais ou não comerciais, que, em alguma medida, apresentam-se como alternativas ao cinema dominante ou mainstream, sua suposta antítese. (FERRARAZ, PIEDADE, SUPPIA, p. 235). No Brasil o termo se refere a procedimentos que se modificaram ao longo do tempo, sendo algumas de suas características a defesa de um cinema livre do modelo norte-americano de representação e a necessidade de inserção e participação efetiva dos filmes independentes nacionais no mercado cinematográfico. O cinema independente brasileiro mantém uma relação paradoxal com o cinema hegemônico que remonta ao início do pensamento sobre um cinema nacional “livre” ainda na década de 50. As propostas desenvolvidas durante os Grandes Congressos de Cinema ocorridos durante a mesma década problematizaram e definiram quais seriam as características da produção independente nacional paulista, o Cinema Independente, a partir de uma “receita” que combinou uma representação técnica “decente” de histórias fáceis e agradáveis com conteúdo nacional. (GALVÃO, p.18) Inicialmente, porém, notou-se que a meta era a de um cinema independente que culminasse com a industrialização do cinema brasileiro e que representasse autenticamente o nacional utilizando-se da qualidade técnica padronizada pelas grandes empresas produtoras estrangeiras. Durante as décadas de 1960 e 1970 com os movimentos do Cinema Novo e Cinema Marginal que também apresentaram a ideia de independência, a relação com o cinema estrangeiro não se apresenta da mesma maneira como na década anterior. O Cinema Novo com seu engajamento político e posteriormente com a modernidade tropicalista procurou em alguma medida a aproximação com o público, ainda que idealista. Já os “marginais” não pretendiam a ocupação de mercado: estar á margem fazia-se condição para ser independente, assim como a subversão dos códigos narrativos hegemônicos. As produções da Boca do Lixo (SP) e do Beco da Fome (RJ), procuraram a aproximação com o público e a participação no mercado de exibição, a partir de sistemas de produção e distribuição que apresentam pontos em comum com muitas das ideias discutidas nos anos 50 e na produção mais recente, com a presença de coletivos audiovisuais de produção e a ideia de uma realização “à toque de caixa”. Atualmente faz-se necessário refletir a hipótese de um cinema independente complementar ou paralelo ao realizado e comercializado pelas grandes empresas majors. As fronteiras entre o independente e o mainstream tornam-se cada vez mais difusas, com a realização de co-produções, além da distribuição de filmes nacionais independentes por empresas majors. Nota-se que são muitos os movimentos e grupos de filmes e cineastas ligados a práticas independentes de realização cinematográfica no Brasil. Não há, no entanto, um fio que permeie de forma completamente homogênea todas as experiências, de maneira que são diversas as categorizações possíveis e as transformações do cinema independente nacional. O que seria então essa produção independente e quais as características de cada momento no qual ela esteve em pauta ou presente na história do nosso cinema? Qual é o limite da “independência” pensada por esses realizadores, em relação ao Estado e as políticas voltadas para o cinema nacional e em relação também as empresas estrangeiras? Quais as características econômicas e estéticas estiveram envolvidas nessas experiências? Assim, pretende-se mapear quais foram os principais momentos em que o cinema independente foi não apenas discutido, mas também colocado em prática enquanto alternativa ao cinema dominante, no que diz respeito a linguagem ou a questões de produção, difusão e comercialização. |
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Bibliografia | FERRARAZ, Rogério; PIEDADE, Lúcio; SUPPIA, Alfredo. “O cinema independente americano”. In: BAPTISTA, Mauro e MASCARELLO, Fernando (org.). Cinema Mundial Contemporâneo. Campinas: Papirus, 2008.
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