ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | As minorias na tela: Rita Moreira na experiência do vídeo popular |
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Autor | Lívia Perez de Paula |
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Resumo Expandido | No início da década de 1980, no Brasil, as minorias sociais - mulheres, negros, homossexuais e indígenas - iniciaram lutas para ampliar seus direitos para além das fronteiras tradicionais atendidas pela política convencional. O clima social e político experimentado face à ditadura militar ajudou a delinear diferentes experiências. O auto-exílio, porta de saída à repressão vivida pelo país, lançou, no início dos anos 1970, algumas personagens centrais desta nova onda de contestação social na efervescência cultural ocorrida nos Estados Unidos e Europa.
O impacto dessas experiências na geração empenhada na luta por direitos dos grupos sociais minoritários recupera impressões a partir dos anos 1960, com referências à contestação cultural vivida tanto no exterior, quanto no Brasil por causa da aproximação dos círculos culturais. Neste panorama a militância política se expandiu contemplando não apenas às questões centradas nos moldes clássicos de esquerda, mas àquelas dos indivíduos e de costumes. É o momento histórico onde surgem organizações e grupos interessados em renovar o sistema social e político do país. A chegada do vídeo no Brasil se dá concomitantemente a este contexto, por influência norte-americana e européia. Neste panorama, o campo sociológico e o domínio audiovisual se aproximam, se cruzam e coexistem em diversas oportunidades onde o trabalho com a imagem em movimento surge como uma estratégia de redefinir a representação destas minorias. O caráter descentralizante do vídeo é fundamental para que este trabalho se dê através de um processo afirmativo de tomada e não numa relação onde prevalece a alteridade e o descompasso entre realizador e ʻobjetoʼ como ocorrera até então nas experiências da cinematografia brasileira. Aos poucos os coletivos e grupos se organizam, expandindo-se em redes, segundo Manuel Castells, através de encontros e debates coletivos e de militantes que buscam o próprio cultivo na produção intelectual produzida dentro dos grupos. Essa característica, em rede, mostrou-se muito favorável para a criação artística, permitindo a realização audiovisual coletiva, exibição e difusão do material em vídeo aproveitando, obviamente, as atividades dentro da agenda política dos grupos. É o caso de coletivos como Lilith Vídeo formado por feministas que realizavam vídeos sobre questões de gênero, Enúgbárijo Comunicações que buscava uma articulação nacional através da produção e circulação de vídeos sobres as minorias sociais e Vídeo nas Aldeias, onde a experiência do vídeo conjugou-se à resistência cultural e estética de representações de grupos indígenas. Alguns realizadores insólitos trabalharão em consonância com movimentos populares em suas obras como Eduardo Coutinho, Joel Zito Araújo, Sérgio Goldenberg e Rita Moreira. Neste trabalho mantenho o enfoque na realizadora Rita Moreira, pioneira do documentário feminista tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos (formada em pela New School for Social Research) que fez parte do que Arlindo Machado, em seu livro Made in Brasil: Três Décadas do Vídeo Brasileiro, chamou de segunda onda de realizadores do vídeo brasileiro, que no início dos anos 1980 buscavam a realização independente de tendência ao documentário e à temática social tendo como horizonte e objetivo a televisão e não mais os museus e as galerias de arte como a primeira geração do vídeo. O que me interessa particularmente na obra de Rita é a forma indissociável como as questões das minorias sociais se apresentam perpassando a militância e não sendo por elas comprimidas nem encerradas num modelo de filme militante autoritário e panfletário. Através de sua experiência num período histórico e social onde ocorre o cruzamento entre a proeminência de movimentos populares e a popularização do vídeo, este estudo busca avançar na reflexão sobre o vídeo popular brasileiro, abordando a vertente do audiovisual que integrou o processo de luta de pessoas que estavam excluídas de seu direito mais elementar: o de ser. |
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Bibliografia | CASTELLS, Manuel, O Poder da Identidade - A Era da Informação: economia sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999
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