ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | “BONITA POR NATUREZA”: O FESTIVAL DO RIO, A CRÍTICA E A CIDADE |
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Autor | Tetê Mattos (Maria Teresa Mattos de Moraes) |
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Resumo Expandido | Partimos da premissa de que os festivais são fenômenos de comunicação e constituem importantes espaços de sociabilidade e de trocas simbólicas. A construção do público freqüentador de um festival, se dá a partir dos laços de afeto e de sentimento que estes eventos constroem. No caso do Festival do Rio há uma orquestração de discursos e ideologias que visam a construção/manutenção de um imaginário de representação da cidade do Rio de Janeiro pautado no clichê da “cidade maravilhosa”. Esta visão de cidade que é produzida, passa a compor um campo de produção de subjetividades que informa e constrói uma mitologia que é compartilhada com os moradores da cidade como um todo. A promessa da cidade ideal, cosmopolita, global, moderna, tecnológica pautada no clichê da “cidade maravilhosa” é visível em seu discurso, que reforça a narrativa da cidade como espetáculo.
Ao analisar os discurso do Festival do Rio a partir de suas campanhas e os cartazes, observamos que a Zona Sul e as suas ‘paisagens naturais’ aparecem como os grandes ícones do Rio de Janeiro: imagens do Cristo Redentor, Pão de Açúcar, a Baía de Guanabara, as praias de Copacabana e Ipanema, a Pedra da Gávea e o Morro Dois Irmãos são retratados nas peças gráficas do festival. Os ícones do cinema – películas, rolos de filme, fotogramas, janelas de projeção, câmeras de filmar - em algumas peças são as molduras que direcionam a nossa visão para a paisagem “bonita por natureza” da cidade, apresentada aqui como uma cidade solar. Nestas peças os quatro elementos que constituem a natureza numa visão ocidental, descritos por Anne Cauquelin, - a água, o fogo, o ar e a terra -, fazem parte da composição desta paisagem: o mar (água), o reflexo do sol (fogo), as areias da praia, as montanhas e seus relevos (terra), o céu azul (ar). Esta estetização da natureza, atrelada ao discurso de cidade maravilhosa reforça um imaginário e utopia de cidade ideal. Os dizeres das campanhas publicitária do evento - “Rio, inspiração natural”, “Rio, surge um grande espetáculo”, “Rio e muito mais” -, também são reveladoras de uma valorização simbólica baseada na ‘geografia do belo’ e na imagem da cidade–espetáculo. Isto é, a cidade moderna, global, preparada para os interesses do capital internacional. Para Jorge Luiz Barbosa “a força icônica das paisagens da natureza exprime um imaginário cultural que nos domina e nos excita” (BARBOSA, 2013, p.32). Podemos afirmar que toda a estratégia de promoção e de consumo dos filmes, se volta para uma utopia de cidade maravilhosa estetizada pela paisagem que apresenta um simulacro do real. Através da “marca Rio” o festival estabelece laços afetivos com o seu público comprometido emocionalmente com o desejo de uma cidade ideal, transformada aqui em mercadoria. O festival em seu discurso hegemônico oculta as desigualdades sociais da cidade. Nos interessa aqui, investigar o papel da crítica cinematográfica no que se refere às questões centradas no Festival do Rio, e especular de que maneira esta produção de sentido sobre o Festival impacta junto ao público frequentador. Ao analisar a crítica cinematográfica nos diversos tipos de veículos – mídia impressa, mídia eletrônica e mídia especializada -, procuraremos observar de que forma há um alinhamento com o discurso de cidade promovido pelo Festival do Rio. Em outras palavras, de que forma o discurso da crítica contribui para o estabelecimento de uma pactuação com a cidade pautado no imaginário da utopia da “cidade maravilhosa”. Um cidade global, centro de acumulação do capital (David Harvey) que passa a ser remodelada para atender aos interesses do capital empresarial. |
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Bibliografia | AMANCIO, Tunico. O Brasil dos gringos: imagens no cinema. Niterói: Intertexto, 2000.
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