ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Marcas sonoras na construção do som ambiente do filme O som ao redor |
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Autor | Leonardo Bortolin Bruno |
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Resumo Expandido | Este artigo propõe fazer um estudo sobre o som ambiente e suas significações dentro do filme brasileiro O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça Filho. Tendo noção de um trabalho artesanal da construção do som ambiente no filme, observam-se duas camadas sonoras que podem ser distinguidas tendo como referência, conceitos de Murray Schaffer apropriadas para o cinema pelo teórico Fernando Morais. Schaffer tem seu estudo voltado a música, contudo, Morais utiliza tais conceitos de maneira muito clara à análises da trilha sonora em filmes. Os sons fundamentais são como texturas que prevalecem, uma espécie de base para que outros sons sejam adicionados, ainda podendo ser comparado a tônica numa linguagem musical (o grau que determinará o tom da música). Já os sinais são marcas sonoras pontuais, geralmente ruídos específicos que são adicionados para engrandecer a narrativa no sentido de ampliar a percepção fílmica com sons de impacto psicológico. O filme O som ao redor possui características sonoras que se encaixam nesses conceitos, pois tem como uma de suas temáticas a transformação do espaço urbano, ou seja, muitas casas sendo demolidas para a construção de condomínios de prédios enormes numa tentativa de se proteger da violência crescente da cidade grande. Assim, o som ambiente do filme tem uma constante sonoridade urbana de construção civil, onde além do “bafo” grave dos trânsitos, estão presentes texturas de máquinas e afins, que localizam o espectador com grande eficiência dentro do enredo. Contando ainda com os sinais sonoros que se destacam nesse ambiente, como marteladas, serras elétricas etc. e o emblemático bate-estaca que chega a marcar um pulso ritmado, um dos fatores que causam a sensação de tensão no filme.
Pensando em ampliar a dimensão do que chamamos de som ambiente, a editora e teórica de som Virginia Flores cria um outro termo, a chamada “cenografias sonoras”. Segundo Flores, o termo “cenografias sonoras” não deixa de ser o som ambiente, porém usar a palavra “cenografia” traz o significado de espaço criado, onde se desenvolve uma cena. Destinando-se o interesse pelo estudo do som ambiente no filme em questão, nota-se que além dos sons fundamentais e sinais já mencionados, há a presença de outros sons contidos nos ambientes, esses com importante produção de sentido para a narrativa. Contudo, são sons provenientes de objetos cênicos que compõe o espaço diegético e até mesmo não-diegético, ou seja, fontes sonoras de um espaço criado. Como exemplo, o universo doméstico da personagem Bia (Maeve Jinkings), que interage com eletrodomésticos da cenografia de um modo muito sonoro, fatores que auxiliam na construção psicológica de sua personagem. Tendo em vista essa aproximação entre o som ambiente e a “cenografia sonora”, pretende-se debater a relação entre os sons geográficos do espaço onde o filme se desenrola, sendo que esses sons localizam o lugar da narrativa e os sons criados pelo espaço cênico, as “cenografias sonoras”, com a utilização de objetos que tem grande potência como fontes sonoras estéticas e dramáticas. Uma vez que todos esses sons estão inseridos no conjunto total do som ambiente do filme, porém com características diferentes. Que características e informações são essas? Assim, busca-se analisar e avaliar a composição desse conjunto sonoro do ambiente, chegando a afirmação que boa parte das emoções e tensões do filme vem dessa construção e escuta sonora. Por isso, é importante refletir a complexidade do som narrativo e dramático para uma boa percepção fílmica. |
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Bibliografia | CHION, Michel. La audiovisión. Barcelona: Paidós Ibérica, 1993.
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