ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | “Nova Dubai” e “O Animal Sonhado”: a autoria pornográfica brasileira. |
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Autor | Luiz Paulo Gomes Neves |
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Resumo Expandido | Recentemente, o cinema brasileiro contemporâneo assumiu uma faceta há pouco ainda tabu em sua produção: a relação entre a cinematografia considerada de autor e a produção inserida no gênero pornô.
Em festivais como a VI Semana dos Realizadores (2014) e a 18ª Mostra de Tiradentes (2015), nota-se a seleção de cada vez mais filmes que lidam fortemente com o erotismo ou a pornografia. Curtas-metragens como “Javaporco” (Leandro das Neves e Will Domingos, 2014), “No dia em que lembrei da viagem a Bicuca” (Vitor Medeiros, 2014) e “Virgindade” (Chico Lacerda, 2014); o média-metragem “Nova Dubai” (Gustavo Vinagre, 2014); e os longas-metragens “Batguano” (Tavinho Teixeira, 2014) e “O Animal Sonhado” (Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Augusto Lima e Victor Costa Lopes, 2015) são exemplos de escolhas curatoriais que permitem observar uma “nova onda” contemporânea cada vez mais preocupada, entre outras coisas, com a decupagem dos corpos e do ato sexual, inserindo inclusive o chamado “money shot”, ou ejaculação para a câmera, característica do gênero pornô. Na verdade, tal produção está inserida em toda uma tradição cinematográfica brasileira que já lidava com os limites entre o erotismo e a pornografia. No ano de 1962, em “Os Cafajestes”, Ruy Guerra exibiu o primeiro nu frontal do cinema brasileiro, na famosa cena de Norma Bengell na praia. Em 1969, Pedro Carlos Rovai (com “Adultério à Brasileira”) e Reginaldo Faria (com “Os Paqueras”) lançam filmes que serão considerados os marcos do que mais tarde vai ser chamada de pornochanchada. Em paralelo à produção das chamadas comédias eróticas (ou neochanchadas, ou pornochanchadas), cineastas reconhecidos enquanto autores lidavam com a temática sexual: Eduardo Escorel, Joaquim Pedro de Andrade, Roberto Palmari e Roberto Santos com “Contos Eróticos” (1977); David Neves com “Luz del Fuego (1981); Carlos Reichenbach com “A Ilha dos Prazeres Proibidos” (1979); Neville de Almeida com Rio Babilônia (1983). É válido mencionar rapidamente que a pornochanchada, gênero reconhecidamente brasileiro, dividiu-se em duas fases. A primeira geralmente vinculada à produção carioca e com uma ligação com a comédia de costumes e a segunda, atribuída à produção paulistana especialmente ligada à Boca do Lixo, que estabeleceu um vínculo estreito com os códigos do hard core. O primeiro filme que inaugura a segunda fase da pornochanchada, considerado o primeiro “pornô” nacional, é “Coisas Eróticas” (1981) de Rafaelle Rossi, que chega ao cinema através de mandado judicial, obtendo mais de 4,5 milhões de espectadores. Atualmente, a produção brasileira pornográfica brasileira possui uma indústria própria, consolidando um mercado audiovisual específico e ao mesmo tempo. Voltando ao campo da cinematografia contemporânea reconhecida enquanto autoral e independente, para a presente proposta, irei me deter em termos de análise especificamente em dois filmes: “Nova Dubai” de Gustavo Vinagre e “O Animal Sonhado” de Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Augusto Lima e Victor Costa Lopes. O primeiro, um média-metragem passado em São Paulo e com a classificação de 18 anos, que flerta com o documentário e a ficção (inserida nos códigos do hard core) e que conta com o seu próprio diretor como protagonista. No site do Catarse (um mecanismo virtual de financiamento coletivo) do filme "Nova Dubai", há a seguinte pergunta: “O que é mais pornográfico? Sexo explícito ou condomínios de luxo?” Já o segundo, um longa-metragem episódico realizado por jovens realizadores de Fortaleza, com a classificação de 14 anos, tem a sinopse mais simples e enigmática: “O animal está em movimento, é impossível segurá-lo. Os corpos vibram, dançam e desejam.” Com tal análise, será possível observar questões como a autoria, a produção independente brasileira e sua ligação com os limites da pornografia e do erotismo. |
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Bibliografia | ABREU, Nuno César. O olhar pornô: a representação do obsceno no cinema e no vídeo. Campinas: Mercado das letras, 1996.
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