ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O Anúncio feito a Maria: a adaptação de Paul Claudel por Alain Cuny |
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Autor | Pedro de Andrade Lima Faissol |
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Resumo Expandido | Aos 83 anos de idade, o veterano ator de teatro Alain Cuny (conhecido no cinema em filmes de Carné, Fellini, Ferreri, Buñuel, Jaeckin etc.) dirige o seu primeiro e único filme, “O Anúncio feito a Maria”, adaptação da obra homônima de Paul Claudel. Alain Cuny já havia participado como ator de uma das mais célebres montagens da peça. A adaptação para o cinema, contudo, só se deu em 1991, quase cinquenta anos depois. Cuny chegou a propor que Robert Bresson adaptasse o texto de Claudel, porém, como não chegaram a um acordo – e, lentamente, após muitos anos de hesitação – enfim se convenceu de que só ele poderia fazer o filme que imaginava (cumprindo, assim, uma antiga promessa feita ao amigo Claudel, que lhe havia confiado o desejo de ver a sua peça adaptada ao cinema).
Embora celebrado por alguns críticos na ocasião de seu lançamento, o filme de Cuny é hoje muito pouco lembrado, até mesmo no seio da mais bem cultivada cinefilia – talvez o desprezo pelo forte catolicismo de Claudel tenha contribuído pra esse gradual esquecimento. Hoje é possível encontrar pela internet uma cópia do filme (extraída de um VHS antigo), mas a sua circulação é ainda muito reduzida. Uma rápida pesquisa sobre o filme de Cuny já é o bastante para percebermos que ele é mencionado frequentemente ao lado de Robert Bresson e da dupla Jean-Marie Straub & Danièle Huillet, uma filiação que nos parece acertada – sendo que incluiríamos ainda, em retrospecto, o nome de Eugène Green, que só viria a fazer filmes uma década depois. O que parece unir esses nomes tão diversos não é tanto uma forma fílmica em comum (não se trata de uma semelhança estilística), mas semelhante método de trabalho por meio do qual tudo passa pela concretude do mundo filmado. Chamaremos esse método de materialismo, objeto da pesquisa em andamento. A força dramatúrgica do filme de Cuny, como também dos diretores mencionados acima, reside na expressividade do gesto e na concretude da palavra. Ao longo de nossa apresentação, analisaremos um trecho do filme de Cuny para explicitarmos como o privilégio da palavra se faz sentir em seu filme: que recursos cênicos lança mão para dar à palavra falada uma posição de destaque em sua “mise en scène”; e o que o diferencia dos realizadores acima listados no que concerne à declamação do texto e à disposição dos atores em cena. Em um belo texto sobre “O Anúncio feito a Maria”, João Bénard da Costa reforça o impacto do filme enaltecendo a presença constante de “associações imagéticas” que se fundem e se confundem com o texto de Claudel, “colocando a vertigem entre o que é visto e o que é dito”. Esses “sinais” são inseridos ao longo do filme para evocar, junto ao texto, algumas alusões ou “obscuras correspondências”. Talvez indeciso entre a opacidade e a clarividência dessas imagens, João Bénard opta por uma expressão mais tortuosa: elas corresponderiam, em suas palavras, a uma “sombria sede de lucidez”. Clarividentes ou obscuramente evocativos, o fato é que esses sinais nunca correm o risco de metaforizar ou ilustrar alguma ideia pronta, pois atuam sempre em conjunto com o texto declamado (ou com a trilha do filme), preservando a incerteza do enigma. O texto de João Bénard da Costa já nos dá algumas boas dicas acerca da adaptação do catolicismo de Claudel no filme de Cuny. Como bem observou João Bénard, Alain Cuny consegue adaptar a peça de Claudel com uma compreensão muito aguda da raiz “mágica e pagã do catolicismo do autor”. É também sobre isso, sempre partindo da análise fílmica, que desejamos tratar em nossa apresentação. |
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Bibliografia | BOEHNER, Philotheus & GILSON, Etienne. "História da Filosofia Cristã". Petrópolis: Vozes, 2012.
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