ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A moral das janelas: conflitos midiáticos no found footage de horror |
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Autor | Klaus Berg Nippes Bragança |
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Resumo Expandido | “Descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência”.
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881. Com o advento das tecnologias VHS na década de 1970, permitiu-se pela primeira vez uma verdadeira popularização do consumo caseiro de filmes que antes seriam vistos apenas em salas de cinema. A partir da entrada do vídeo em circuito doméstico diversas misturas foram instauradas: “as esferas do público e do privado, de exibição cinematográfica e doméstica não são mais separadas do que os termos apagadores-de-limites ‘home-theatre’ e ‘home office’” (BADLEY, 2010, p.45). Já na década seguinte alguns produtores motivados pelo mercado crescente do home video, passaram a produzir filmes exclusivamente para estes ambientes privados – o DTV, ou direct to video, por exemplo. O filme found footage de horror incorpora em seus códigos tanto práticas de produção quanto hábitos de consumo midiático, de forma que “a observação doméstica está mudando o modo como os filmes são experimentados, distribuídos e feitos. Cada vez mais, um ‘filme’ é visto como um nó intermediário desse universo” (Badley, 2010, p.45). Esta evolução da circulação dos produtos culturais na era digital foi percebida pelo subgênero e já floresce como uma questão em algumas narrativas. Uma fobia da mídia industrial que contorna as narrativas promovidas por ela, e que acabam sendo citadas e repetidas pelas produções independentes e amadoras. O campo do found footage depende de outro tipo de circulação na cultura contemporânea, visto que esta cinematografia muitas vezes não ocupa janelas muito presentes no cotidiano cultural. Muitas vezes vagueia por circuitos pouco divulgados, mas localizados por um público que participa avidamente na perpetuação e disseminação do subgênero. Algumas janelas, talvez mais elitizadas ou robustas em suas projeções, não comportam apropriadamente a diversidade e variedade de produções que trafegam, muitas vezes livremente, outras vezes ilegalmente, através de sites, blogs e plataformas de compartilhamento de vídeos na internet. Nesse quesito, outro tipo de fobia foi incorporada ao repertório do found footage: atributos nocivos procuram evidenciar as práticas perversas que podem ser feitas com a tecnologia digital. Em geral, estes argumentos procuram acusar a popularização massiva da tecnologia como fator de perigo e ameaça para a ordem social. Não um medo da tecnologia em si, mas do uso que qualquer pessoa pode dar a ela, um resultado indefinido que pode trazer prejuízos particulares ou para a sociedade. O amador pode desafiar os valores tradicionais que a mídia comercial considera impróprios de produzir e exibir, por exemplo, ameaçando a privacidade de suas estrelas ou tornando anônimos em famosos sem que assim o queiram – através da circulação viral e “pornografia de vingança” por exemplo. Filmes como “The Last Broadcast” (USA, 1998), “[REC]” (Espanha, 2007) e “Grave Encounters I e II” (Canadá, 2011 e 2012) apresentam a mídia de massa em seu último suspiro. Castigada e fragilizada a mídia de massa é deixada de lado para legar ao amador os horrores da tecnologia de vídeo, como mostra “Ragini MMS” (Índia, 2012). Até mesmo produções independentes distribuídas através de plataformas colaborativas da Web 2.0 como a web-série “Marble Hornets” (USA, 2009-2014) e a franquia caseira “Matadouro” (Brasil, 2012 e 2013), mostram que o vídeo digital se tornou uma afronta aos valores industriais e um propulsor de horror e medo. Este trabalho investiga as relações entre a mídia de massa e o amador, bem como as maneiras como alguns filmes refletem fobias sobre o empoderamento da tecnologia, receios sobre a produção e a distribuição digital de vídeos. |
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Bibliografia | BADLEY, L. “Bringing it all back home: Horror cinema and video culture”. In: CONRICH, Ian (Ed.). Horror Zone: The cultural experience of contemporary horror cinema. London/NY: I.B. Tauris, 2010, pp.45-63.
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