ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Instituto Alana e o documentário institucional: estética e contexto |
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Autor | Letizia Osorio Nicoli |
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Resumo Expandido | O Instituto Alana, organização não-governamental brasileira voltada para o cuidado e a proteção da infância, vem crescendo consideravelmente desde o final dos anos 2000. Uma das atividades de maior notoriedade entre seus projetos é a produção de documentários. Entre 2008 e 2014, o Instituto produziu três filmes documentários, exibidos comercialmente nos cinemas e lançados em um Box, no ano passado, intitulado “Caixa de Mudança”. Uma produtora de cinema, a Maria Farinha Filmes, foi criada para se ocupar exclusivamente dos projetos audiovisuais.
Os documentários em questão são “Criança, a alma do negócio” (2008), “Muito Além do Peso” (2012), ambos de Estela Renner, e “Tarja Branca” (2014), de Cacau Rhoden. Enquanto os dois primeiros filmes tratam dos abusos da publicidade voltada para crianças e da obesidade infantil, respectivamente, o último se volta para o papel do brincar no desenvolvimento do sujeito e na transmissão da cultura. Todos os temas se relacionam com causas pelas quais o Instituto Alana advoga, notando-se uma certa sobreposição temática, já que assuntos tratados em um filme são retomados parcialmente nos outros, promovendo um encadeamento das discussões. Percebe-se, nos documentários, um incremento na subjetividade e na complexidade enunciativa dos documentários, não apenas do ponto de vista estético, mas até mesmo na abordagem temática – voltando-se para assuntos relacionados à infância, ao desenvolvimento e à aprendizagem por um viés mais amplo, inserindo a infância dentro da sociedade. Pretendemos, neste trabalho, aprofundar essa percepção inicial, centrando nossa análise nas possibilidades formais do documentário institucional, tendo como base os três filmes mencionados. Buscaremos, ao final, sugerir hipóteses a respeito da motivação e da viabilidade das mudanças propostas pelos filmes do Instituto Alana, considerando o contexto da produção e da veiculação desses filmes. Acreditamos assim poder compreender como os documentários produzidos por aquele instituto vêm conseguindo desenvolver sua função institucional, publicizando projetos e causas da organização, ao mesmo tempo em que ampliam as possibilidades do tratamento estético, tornando mais subjetiva a relação institucional entre o filme e a organização. Para tanto, discutiremos o conceito de documentário institucional, buscando rever as diferentes tradições formais e éticas desse tipo de audiovisual. Segundo Fernão Pessoa Ramos, os documentários institucionais caracterizam-se por direcionar-se às demandas da empresa patrocinadora (2008, p. 64). Formalmente, esse tipo de filme é usualmente associado ao modo de enunciação expositivo proposto por Bill Nichols, caracterizado pelo forte caráter argumentativo desenvolvido por palavras ou pela voz over, relegando às imagens um papel secundário (2005, p.142-144). Passaremos por alguns modelos da função institucional do documentário, desde o modelo Griersoniano, até o documentário de justiça social (denominação utilizada por Debbie James Smith para organizar um modelo de produção inserido em projetos assistencialistas sem fins lucrativos). É importante perceber que essas referências oferecem modelos formais, com procedimentos estéticos específicos, porém sempre atrelados a uma concepção do documentário como ferramenta. É nesse sentido que retomamos tais referências, construindo a partir delas essa reflexão sobre os filmes do Instituto Alana, em que consideramos os aspectos formais atrelados ao contexto de realização. Buscaremos assim demonstrar que a crescente liberdade de construção nos documentários produzidos pelo Instituto Alana é possível, sobretudo, pela percepção de que tais procedimentos permitem uma repercussão mais ampla de seus filmes e, consequentemente, das discussões sobre a infância no Brasil, foco da organização. |
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Bibliografia | BARNOUW, Erik. El Documental: Historia y estilo. Barcelona: Gedisa Editorial, 2005.
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