ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Televisão e a técnica encantadora |
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Autor | Dilma Beatriz Rocha Juliano |
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Resumo Expandido | Pretende-se nesta comunicação apresentar uma reflexão sobre o encantamento moderno e contemporâneo contido na técnica, aqui, considerando a TV como a caixa de ver e ouvir, assim anunciada desde o início do século XX. Retomando o debate histórico, mostra-se a TV em sua construção técnica e estética. O termo máquina (mekané) que, originalmente, significa artimanha, engano, artifício, já em si divide a sociedade entre os astutos, capazes de compreendê-la em sua essência e “divinamente” reger seu funcionamento, e os outros, aqueles que não possuem o “saber” sobre ela e servem ao poder dos primeiros. O poder se materializa nas máquinas que os homens poderosos possuem. Aos poucos, a necessidade de “saber” a TV-máquina que alimenta o desejo de incorporar-se a ela, “ter” seus produtos e “ser” também como sua mercadoria. Este deslocamento de fora (saber sobre a máquina) para dentro (ser a própria máquina), que reduz o distanciamento crítico sobre ela, é proporcional à sofisticação tecnológica que, em paralelo, fetichiza toda mercadoria veiculada. Nesse sentido, a TV responsabiliza-se em transformar tanto a matéria impressa da revista “especializada em televisão” aos periódicos generalistas que tanto vendem o ator, em sua pseudo-intimidade, quanto as modas de consumo que ela anuncia. Isso pode caracterizar, em última instância, o processo de passagem do cidadão ao consumidor; daquele que chorava com a telenovela àquele que passa a desejar a moda com a qual desfila o protagonista. Se o distanciamento inicial que a televisão causa no telespectador manteve, por certo tempo, seu distanciamento da máquina, marcando os limites entre a realidade e a imagem que ela mostra, o aperfeiçoamento técnico fez com que a redução das “falhas” exercesse o apagamento do limite, provocando a “maravilhosa” confusão. A falha, própria do humano que movimenta a máquina, ao ser superada pela técnica, ratifica a supremacia desta última, anulando a percepção da presença orgânica na virtualidade do real que a televisão mostra. Ator e telespectador irmanados no consumo e na mercadoria estabelecem os fios entre o dentro e o fora, satisfazendo e descartando o antigo desejo do “saber” a máquina. Toda crença que pretende adesão coletiva aos seus pressupostos elege símbolos que reiteram, continuamente, sua presença na ausência. Então, a sociedade encantada pela técnica e embalada pelo ilusionismo moderno e contemporâneo, em seus processos de espetacularização, crê que as mudanças sonhadas - fim das injustiças, repartição integral dos pães, harmonia entre os povos, enfim, a felicidade eterna como ideal universal - sairão das máquinas disponibilizadas pelo desenvolvimento tecnológico. O que há por trás delas é “mágico” (e esta magia é a dimensão utópica presente em toda a mídia, como já havia observado Walter Benjamin, em relação ao poder democrático e revolucionário contidos na fotografia e no cinema) e como tal precisa ser desacreditado em benefício da técnica. Essa sim, de comprovação científica, deixa-se ver: tudo o que está “de trás” ou o “por dentro” precisa ficar oculto, pois sua revelação representaria uma democratização do conhecimento perigosa aos interesses “mágicos” da ideologia. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor W. ; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
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