ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Terror das imagens: O universo artístico do cinema de horror italiano |
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Autor | Letícia Badan Palhares Knauer de Campos |
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Resumo Expandido | O cinema de horror trabalha de forma constante a representação e utilização das obras de arte e a cultura visual. Certamente esta característica pode ser encontrada em outros gêneros, especialmente na cultura de Hollywood, contudo, no espaço aqui delimitado possui contornos que merecem ser visto com lentes aumentativas. Basta termos em mente, por exemplo, os filmes de Ken Russell, nos quais as obras de arte, principalmente aquelas ligadas ao fin-de-siècle são lidas e reinterpretadas a fim de construir um ambiente macabro e teatral. Gothic (1986) refaz as diferentes versões do Pesadelo de Henri Fussli, Altered States (1980) cria uma versão onírica da Sphinx de Franz von Stuck. Ou ainda, Michele Soavi, com suas interpretações de Magritte, Böcklin e Vallejo. Esse uso das imagens, por vezes apenas aludidos, por vezes mais fielmente trabalhados, revela o poder e capacidade das obras de arte em engendrar nos espectadores sensações de medo e terror. A escolha destas obras não é em momento algum ocasional. Ela revela um espírito comum entre cinema e arte e um terceiro elemento, gerado a partir dessa união. Tais características podem também ser contempladas, em particular, no cinema de horror italiano que apresenta as citações plásticas como artifícios de medo e inquietação na composição de cenas, momentos e personagens. Filmes como La Sindrome di Stendhal (1996), de Dario Argento, Aenigma (1987), de Lucio Fulci inserem o tema das artes de forma demasiada intensa e perturbadora, a partir da releitura da Síndrome de Stendhal. A síndrome, que acomete aqueles frente às obras de arte, desperta tonturas, palpitações e por vezes alucinações em suas vítimas. Fulci e Argento transportam a síndrome ao cinema e dão às obras utilizadas características verdadeiramente sobrenaturais. Em Aenigma, o Strage degli innocenti (1611-12), de Guido Reni, ganha vida, fazendo cair, sob os pés da personagem, o braço mutilado de uma das mães da composição. Em La Sindrome di Stendhal, por outro lado, Argento cria um ambiente completamente único, no qual Anna Manni (Asia Argento) tomada pelo poder das obras da Galleria degli Uffizi se envolve em uma espécie de alucinação, mergulhando, numa cena de beleza extrema, a “Paisagem com a queda de Ícaro” (1590-95c.), do círculo de Bruegel. Para esta comunicação, no entanto, focaremos em um aspecto diverso, mas íntimo ao mesmo tempo, dessas produções. Quase como um evento limite, em alguns casos, a obra de arte transforma-se em uma arma letal. Portando deixa de ser um elemento que engendra ou amplifica certo medo e torna-se, deste modo, fatal. Essas características se amplificam e ficam mais claras a partir de dois filmes de Dario Argento: L’Uccello dalle Piume di Cristallo (1970) e Tenebre (1982). Em tais filmes, a arte se porta como autora do assassinato. Através de esculturas contemporâneas, de características metálicas e pontiagudas, Argento subverte o papel da arte como objeto de ornamentação dos espaços cenográficos e intensifica, com isso, o seu poder. São diversos os usos da arte em seu cinema. Contudo, cada obra é tratada de forma meticulosa e particular. Essa comunicação pretende tratar, portanto, dos filmes acima citados, nos quais essas características se expressam com intensidade e força, e por meio disso, apresentar como, de diferentes formas, a obra de arte pode se portar como não apenas um propulsor do medo, mas o próximo medo em si. |
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Bibliografia | LAFOND, Frank (Org.) Cauchemars italiens – Volume 2: Le cinéma horrifique. Paris: L’Harmattan, 2011.
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