ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A presença do melodrama na dramaturgia seriada de The Walking Dead |
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Autor | Marcelo Oliveira Lima |
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Resumo Expandido | O melodrama influencia vastamente a ficção seriada televisiva em seus diversos formatos (SILVA, 2014; THORBURN, 1976). Em seriados norte-americanos reconhecidos pela sua excelência, tais como Breaking Bad e The Good Wife é possível perceber elementos da melodramaturgia na construção das personagens, na escolha dos espaços de ação, na criação dos arcos dramáticos e na perspectiva moral que permeia os incidentes de cada um destes mundos ficcionais.
Em seu estudo sobre o melodrama enquanto gênero teatral que se desenvolveu frutiferamente na França, Thomasseau (2005) traça suas origens a partir dos dramas cantados na Itália, no século XVII. Resultado de convergências do modo lírico de representação teatral, do cômico, de elementos trágicos e da exploração de dispositivos cênicos espetaculares em experimentos teatrais, o melodrama se conforma em fins do século XVIII, na França, com características mais sólidas que são identificadas, mesmo atualmente, como basilares deste gênero. Independente da época de produção, Thomasseau aponta que essencialmente o melodrama é um gênero teatral que privilegia primeiramente a emoção e a sensação. Sua principal preocupação é fazer variarem estas emoções com a alternância e o contraste de cenas calmas ou movimentadas, alegres ou patéticas. É também um gênero no qual a ação romanesca e espetacular impede a reflexão e deixa os nervos à flor da pele (p.139). Essa estrutura de alternância entre momentos de quebra de equilíbrio e retorno ao equilíbrio inicial também é apontada por Thorburn em seus estudos de televisão. Segundo ele (1976), o estratagema criado sobre a trajetória do herói e das personagens para manter esse equilíbrio deve reter um interesse fundamental no melodrama, portanto uma intriga bem construída e cuja causalidade seja bem encadeada é um dos elementos de prazer para o público. Atentando para os conceitos e mecanismos do melodrama identificados por Bakhtin, Thorburn, e Thomasseau identificamos três aspectos essenciais desse gênero operando na série The Walking Dead: 1- O primeiro elemento melodramático que defendemos é o da existência de uma engenharia narrativa em que as personagens são inseridas numa situação de equilíbrio inicial, que é rompido por provações e perseguições e, com a resolução dos problemas, a harmonia é restituída. Essa tônica se dá, principalmente, devido ao caráter distópico da série. Uma vez que o mundo está tomado de zumbis e com poucos recursos para sobrevivência, as personagens são obrigadas a viver de forma nômade, ocupando temporariamente um espaço até exaurirem os suprimentos ou se verem forçados a fugir devido à uma invasão zumbi ou de um grupo humano rival. Então, eles encontram um novo local e repetem o ciclo; 2 – o segundo elemento melodramático de monta está na caracterização das personagens. Os caracteres que conformam este grupo de sobreviventes são de diferentes estratos sociais e ocupam funções diferentes em sua precária organização social nômade. Essas personagens são baseadas em tipos facilmente reconhecíveis por quem consome séries: temos o policial herói e o policial vilão, a criança que é forçada a amadurecer diante dos perigos do mundo, a mulher grávida que requer proteção, dentre outros. Ao gosto do melodrama, as personagens se referem mais a tipos do que indivíduos singulares, reportando à uma memória coletiva do espectador; 3 – a moralidade é uma das questões centrais da narrativa. TWD se organiza e age de modo a apresentar suas personagens em situações-limite que põem à prova as noções morais existentes. Um exemplo de situação-limite é a discussão entre Lori e Shane em meio à ponte para Atlanta, na segunda temporada. Shane pega mantimentos no carro das pessoas e Lori questiona se o grupo agirá como saqueadores de mortos. Todos se olham, mas no fim concordam com Shane de que, sob extrema necessidade, eles precisam fazer o que for necessário para a sobrevivência. |
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Bibliografia | BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e estética - a teoria do romance. São Paulo: Unesp, 1998
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