ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Argumentação e estilística nos diagnósticos diferenciais de Dr. House |
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Autor | Renato Luiz Pucci Junior |
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Resumo Expandido | A proposta tem por objetivo levantar elementos de diálogo e de estilo televisivo que permitam avaliar o caráter da série Dr. House (2004-2012) em relação a um possível aspecto pedagógico. Trata-se de analisar momentos específicos dos episódios: os debates gerados nos diagnósticos diferenciais desenvolvidos pela equipe médica, ou seja, quando do “exercício lógico durante o qual os sinais e sintomas clínicos são comparados com possíveis diagnósticos” (HOLTZ, 2008). A cada episódio, o número de rodadas de debates varia entre quatro e seis, aproximadamente, com duração média de vários minutos. Considerando-se a duração total do episódio, soma-se portanto um tempo considerável dedicado à representação de uma intensa atividade intelectual, o que, no mínimo, pode ser considerado incomum na televisão comercial. Mesmo outras narrativas de investigação, que, como Dr. House, tematizam a resolução de problemas relacionados a algo acontecido no passado com consequências no presente, dificilmente há tanto tempo dedicado a discussões. Particularmente, em C.S.I. Las Vegas (2000-2015) e suas variações, assim como em NCIS (2003-2015), Criminal Minds (2005-2015) e outras séries do tipo, o processo da descoberta se dá geralmente por meio de dados obtidos por meio de equipamentos eletrônicos, com inferências muitas vezes realizadas de forma mecânica pelos personagens. A proposta tem em vista as primeiras quatro temporadas de Dr. House, quando prevalece a característica acima apontada em relação aos diagnósticos diferenciais, uma vez que na continuação da série alça-se ao primeiro plano o enredo melodramático, de modo a reduzir-se o debate a proposições emitidas de forma automatizada pelos personagens, em ritmo acelerado, fazendo com que inevitavelmente se perca a possibilidade de qualquer sentido pedagógico. Serão analisadas cenas de episódios específicos de Dr. House a fim de examinar o rigor dos debates em confronto com o pensamento crítico (CARNIELLI; EPSTEIN, 2011). Uma vez que a formulação de diagnósticos envolve o que em psicologia se denomina resolução de problemas (problem solving), algumas noções dessa área serão trazidas na análise. Em particular, poderá ser útil a diferenciação entre ill-defined problems e well-defined problems (EYSENCK, 2001) em vista do caráter peculiar dos problemas relativos a diagnósticos, que se assemelham mais ao primeiro grupo de problemas (em que se também se classificam problemas cotidianos) do que ao segundo, ou seja, aqueles preparados por psicólogos para utilização em laboratório. Diagnósticos são, portanto, problemas que se solucionam sem que haja uma estratégia que se possa denominar a “melhor”, estabelecida de antemão. Como Dr. House é um produto audiovisual, será necessário levar a análise aos aspectos audiovisuais das cenas em foco, a fim de detectar elementos estilísticos que possam favorecer a compreensão dos espectadores (como em closes repentinos em quem formula uma hipótese plausível) ou ao menos auxiliando a controlar a atenção destes a fim de que não percam o fio argumentativo. Evidentemente, não se trata aqui de pensar que espectadores estejam a aprender o exercício da medicina por meio da série em questão, mas da possibilidade de que se envolvam com um ambiente ficcional que exibe os meandros da argumentação racional, experiência que raramente é propiciada pelas instituições que em outros tempos, pelo menos em certas classes sociais, levavam os mais jovens ao aprendizado, isto é, a família e a escola. Caso seja possível corroborar a hipótese de um aspecto pedagógico na série em foco, independentemente de intenção dos realizadores, valeria a pena pensar no alcance do aprendizado à mão de um número imenso de espectadores em tantos países, dado o sucesso e a longevidade da série. |
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Bibliografia | BUTLER, Jeremy G. Television Style. Nova York: Routledge, 2010. Kindle Edition.
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