ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Ação nas alturas: “Hei de vencer” e as proezas da aviação nos anos 20 |
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Autor | Luciana Corrêa de Araújo |
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Resumo Expandido | No seu estudo sobre a São Paulo dos anos 1920, Nicolau Sevcenko aponta a aviação como a nova grande sensação que iria se impor ao longo da década. Depois da Primeira Guerra, quando se desenvolveu e se aperfeiçoou, a aviação “deixava de ser vista como um assunto estritamente militar e estratégico e passava a ser encarada como um esporte, como o mais excitante de todos os esportes” (Sevcenko, 1992: 78). O fenômeno não será ignorado pelos filmes brasileiros, em particular os diversos curtas naturais (não ficção) que registram os raids aéreos, valorizando a figura heroica dos pilotos e a mobilização popular em torno de suas façanhas. Desta produção, existem alguns títulos preservados, entre eles, "Rumo ao céu da pátria" (Medeiros Film, 1926), "Chegada de De Pinedo a Santo Amaro" (Rossi-Film, 1927) e o filme doméstico sobre a chegada do hidroavião Jahú ao Recife (sem título ou indicação de realizador, 1927).
Na produção de enredo, as proezas aéreas e a presença de aviadores configuram as grandes atrações do longa-metragem "Hei de vencer", dirigido por Luiz de Barros, com produção e argumento de Antonio Tibiriçá. A Pátria-Film, produtora paulista de Tibiriçá, e a Guanabara-Film, de Barros, coproduzem o filme, lançado no Rio de Janeiro em novembro 1924, ano seguinte à chegada do hidroavião Sampaio Correia, concluindo o celebrado raid Nova York-Rio de Janeiro, comandado pelo norte-americano Walter Hinton e o copiloto brasileiro Pinto Martins. Este raid é tema de pelo menos três cinejornais, incluindo um da Guanabara-Film. Com "Hei de vencer", Barros volta ao tema, incluindo no enredo a participação dos aviadores Anésia Pinheiro Machado, uma das mulheres pioneiras da aviação no Brasil, e Ribeiro de Barros, que pouco depois iria integrar a tripulação do hidroavião Jahú, no raid Gênova-São Paulo, cujas escalas em cidades brasileiras se transformariam em grandes eventos festivos, atraindo multidões. Nos filmes hollywoodianos, o universo da aviação há muito havia sido incorporado, não só como tema mas também enquanto elemento “de sensação”, sobretudo nas comédias, seriados e filmes de aventura em geral. Um desses títulos teria sido inclusive uma inspiração direta para "Hei de vencer". Em suas memórias, Barros conta que, diante do grande sucesso obtido por um filme americano (ele não especifica qual), em que um personagem pulava em pleno voo de um avião para outro a oitocentos metros de altura, ele pensou em fazer o mesmo no seu filme (Barros, 1978: 71-72). Além dessa cena envolvendo a perseguição entre herói e vilão, "Hei de vencer" também mostrava acrobacias de risco, como o “parafuso da morte”, filmado de dentro do próprio avião (apud. Navitski, 2013: 170). A relação com o cinema hollywoodiano estreita-se pelo tratamento dado a "Hei de vencer", que Navitski considera “a incursão mais ousada de Luiz de Barros no melodrama de aventura” (2013: 56), depois de dirigir outros dois filmes ligados ao gênero, "A joia maldita" (1920) e "O cavaleiro negro" (1922). Esta comunicação tem como proposta analisar "Hei de vencer", articulando essas duas perspectivas: o diálogo que estabelece com o cinema hollywoodiano, especialmente com o gênero de aventura e o “melodrama de sensação” (Singer, 2001); e a relação deste longa de enredo, que explora o fascínio do momento diante dos prodígios da aviação, com a produção de curtas naturais (não-ficção) com registros de raids aéreos e da mobilização popular em torno deles. Como não existe cópia preservada do filme, o trabalho irá se valer da pesquisa em periódicos e fontes diversas a fim de compreender as estratégias de Barros ao mobilizar tanto elementos cinematográficos quanto um circuito de práticas culturais amplamente reconhecidos e prestigiados pelo público que pretendia alcançar com seu filme. |
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Bibliografia | BARROS, Luis de. Minhas memórias de cineasta. Rio de Janeiro: Artenova/Embrafilme, 1978.
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