ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | REDES DE FORMAÇÃO PELO CINEMA: CONSUMO, TRAJETÓRIAS E PRÁTICAS DE SIGNIFICAÇÃO |
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Autor | Milene de Cássia Silveira Gusmão |
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Resumo Expandido | Considerando que os processos de formação para e pelo cinema constituem uma importante pauta em âmbitos de produção e difusão cinematográficos, a reflexão apresentada toma a estruturação de redes sócio-humanas como referência analítica para compreender a existência permanente e extensiva de pessoas atuando para difundir práticas e constituir organizações que se ocupam com processos de significação mediante consumo cinematográfico e audiovisual. A motivação está em perceber os usos e efeitos que certas alianças humanas mobilizam quando investem na constituição de acervos e na transmissão de conhecimentos e valores, evidenciando metodologias e práticas pedagógicas.
Nesse sentido, são exemplares tanto as redes que se constituíram pelos trânsitos em cineclubes, mostras e festivais de cinema quanto outras que se estruturaram a partir de grupos respaldados por instituições, como foi o caso do Plan Deni/Cineduc, rede de formação para o cinema implantada em oito países da América Latina, sob a iniciativa católica, entre as décadas de 1960 e 1970, bem como a Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual – Rede Kino, constituída em 2009, principalmente a partir da ação de educadores vinculados a instituições universitárias. A análise desenvolvida está ancorada de um lado na compreensão expressa por Manuel Castells (2013) de que os seres humanos criam significado interagindo com seu ambiente natural e social, conectando suas redes neurais com as redes da natureza e com as redes sociais, bem como na percepção de que a constituição dessas redes se opera pelo ato da comunicação traduzido na partilha de sentidos viabilizada pela troca de informações. Também na reflexão de Norbert Elias (2002) de que os indivíduos vivem um grande processo coletivo de aprendizagem, no qual, ao fazerem parte, desenvolvem percepções e instituições que, na maioria das vezes, são resultantes de percursos anteriores, realizados por pessoas que, ao tecerem a vida, preparam o terreno para as gerações futuras. E, de outro lado, no exercício analítico realizado por Pierre Bourdieu (2001), quando se preocupa em explicitar tanto os esquemas transmitidos nas práticas quanto os esquemas empregados na transmissão de valores e percepções realizados por meio das instituições de socialização dos agentes, ressaltando a importância do habitus, inscrito nos corpos pelas experiências passadas, que constitui os agentes sociais. Sendo assim, o trabalho toma os exemplos citados anteriormente e a seguir apresentados, que apesar de terem se constituído em tempos históricos distintos, desenvolveram trajetórias e práticas sociais que relacionam consumo e produção cinematográfica, objetivando qualificar processos de formação cultural, atuando na estruturação de redes de partilha e colaboração tanto para ampliação do acesso aos bens simbólicos como para reflexão acerca das políticas educacionais e culturais. O Plan Deni ou Plano de Educação Cinematográfica para Crianças surgiu como uma proposta de inserção do cinema em escolas infantis da América Latina, elaborada em 1967, pelo professor cubano radicado no Equador, Luis Campos Martinez, adotada pela Organização Católica Internacional de Cinema (Ocic), por meio do seu Secretariado Latino-Americano (SAL-Ocic), sob a direção de América Penichet. Ação que no Brasil foi nomeada Cinema e Educação (Cineduc), coordenada por Hilda Soares e Marialva Monteiro. A Rede Kino se inicia em agosto de 2009, na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, entre pessoas interessadas em articular ações entre educação, cinema e audiovisual, com o intuito de formar uma rede interpessoal e interinstitucional visando a estabelecer ações parceiras para desenvolver e consolidar práticas que tratassem da importância do cinema e do audiovisual no campo da educação e da cultura nas sociedades contemporâneas. Atualmente, a rede conta com mais de 140 associados de diversas instituições do Brasil e de outros países da América Latina. |
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Bibliografia | BOURDIEU, Pierre. Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2001.
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