ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Cinema brasileiro na escola de educação básica: uma questão de redes. |
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Autor | Adriana Mabel Fresquet |
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Resumo Expandido | As redes digitais constituem uma grande ruptura histórico-social nos modos de relação entre as pessoas e delas com o conhecimento e a cultura. A cultura digital transforma hábitos de uma sociedade industrial, segmentada, que perpetua hierarquias em função da posse do conhecimento restrito tradicionalmente ao formato da propriedade privada. Em alguma medida, as redes hoje nos permitem migrar de uma cultura de consumo, para uma cultura a ser produzida e de um acesso cada vez maior. O Brasil tem se destacado internacionalmente pela presença na rede (SAVAZONI & KOHN, 2009). Percebemos assim, um deslocamento radical da indústria cultural, que determinava o que ficaria acessível a um determinado o público para uma produção cultural pelas pessoas, quase uma volta ao passado. Sem intermediários, elas conseguem produzir e compartilhar suas produções e também acessar outras, revelando uma emancipação intelectual e de interesses inédita. Mas não podemos ignorar o modo como os grandes conglomerados midiáticos e as mídias sociais também cooptaram a produção subjetiva dos jovens, que passaram a um regime de produção constante, full time. Se as redes libertam, elas também são máquinas de captura de desejo, de encarceramento, de circularidade, repetição. Esta é a outra cara da leitura da rede em seu sentido mais democrático. Certamente, plural, capilarizado, mas é preciso que as palavras ditas também ocupem um novo lugar, deem lugar à inscrição de novos sujeitos (PIPANO, 2015). Nesse sentido, a escola, atravessada pelas redes (SIBILIA, 2012), torna-se em um cenário de acesso ao património cinematográfico cada vez mais disponível e em um espaço de autoria na produção audiovisual surpreendente. A lei 13006, sancionada em 26/06/14, que obriga às escolas de educação básica a projetar duas horas de cinema nacional por mês, coloca o desafio de imaginar modos rizomáticos de acesso ao cinema brasileiro e possibilidades de criação inspiradas nesses espelhamentos de um Brasil múltiplo, complexo e assimétrico. Esta lei, fricciona professores e estudantes com imagens e sons do cinema brasileiro e, tacitamente, inspira a criação de novas imagens e sons. Isso pode significar uma alteração do que está dado a ver, a pensar, um convite a desaprender os (des)valores vigentes.
Se todo o que existe como invenção já foi imaginado, partindo da associação de partes do real (Vigotski, 2000), cabe apostar em uma autoria radical na construção de um outro pais, pelo que há de desejo oculto na imagem criada. A escola poderá se tornar em um espaço para imaginar um outro lugar para habitar, a cada gesto de criação. Esta é a potencia maior que está implícita na lei. Trata-se da possibilidade de transformar com o que temos aquilo que sonhamos. Um desafio infinito que inaugura a sala de aula, o quadro preto e a tela de projeção em um novo “start”. Como regulamentar a lei 13006? Qual o formato de acesso a uma plataforma de cinema nacional? Como compor uma equipe de curadoria dos filmes? E a formação dos professores? O cinema nacional se materializará como “algo” da escola. “Algo” nos remete à “linguagem pedagógica das coisas” definida por Passolini, para quem: “o que te ensinaram os pais, os professores, a televisão e até os colegas são absolutamente impotentes frente ao que te ensinaram as coisas. Sua linguagem inarticulada e absolutamente rígida e portanto inarticulado e absolutamente rígido o aprendizado e as opiniões não verbais que se formaram em cada um de nós através desses aprendizados. [...] Aquilo que as coisas nos ensinaram é absolutamente diferente daquilo que as coisas com sua linguagem ensinaram a nossos estudantes. Não mudou porém a linguagem das coisas, mas são as próprias coisas que mudaram. (1990; p. 179-180). Será que um grupo cuidadosamente selecionado de filmes nacionais e dispositivos de produção de imagens para a escola atingem essa força? Duas “coisas” de uma potencia de produção de subjetividade e de descoberta e criação de conhecimento únicas. |
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Bibliografia | FRESQUET, A. Cine y educación: la potencia del gesto creativo. Santiago: 8 livros, 2014.
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