ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A arquitetura teórica de Glauber Rocha: notas em torno de RCCB |
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Autor | Arlindo Rebechi Junior |
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Resumo Expandido | Em 1963, na ocasião de publicação de seu primeiro livro, Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, Glauber Rocha, então com apenas 24 anos, conseguira divulgar de forma mais ampla sua militância teórica. Tratava-se de um livro que firmaria sua consagração face duas frações: os jovens intelectuais de cinema, que viam em sua obra uma afinidade e um programa de reconhecimento da nova arte, transformando seu autor e seu livro em liderança e porta-voz do movimento, respectivamente, e os mais velhos, muitos deles críticos de cinema, como foi o caso de Paulo Emílio, que notavam em RCCB um empenho de luta nunca antes visto na história das ideias do nosso cinema. Ainda mais: o livro nascia como uma história notável da vida intelectual de cineastas e críticos de cinema do momento: um livro-vulcão, um livro, sobretudo, de pura opinião e construção estratégica e ideológica de seu autor.
Depois de coletar artigos baianos e cariocas de periódicos, escrever partes, e repensar um canônico caminho para o cinema brasileiro, seu autor colocara em circulação com RCCB o que representava o balanço de sua militância crítica e os supostos programas do emergente Cinema Novo até aquele momento, demarcando, explicitamente, os desafetos e os aliados ao tipo de arte que defendia. Glauber parte dos artigos de jornal para se chegar ao formato de livro. Para isso, precisaria integrar uma militância, desde os tempos finais dos anos 1950, com a precisão de compatibilizá-la a uma escrita histórica coesa e totalizadora, como almejava ser um livro daquela natureza. Uma obra que vinha para ao mesmo tempo servir aos interesses práticos do grupo de jovens do cinema e servir como campanha de combate às parcelas intelectuais em desavença. O crítico Ismail Xavier capta muito bem as linhas de forças pelas quais o livro está sujeito. Se nos artigos de jornais, em que o “juízo podia ser mais nuançado” (XAVIER, 2003, p. 8), a atuação militante competia com tantas outras forças, os espaços de ações e recepções do livro eram outros e, por sinal naquele momento, muito mais concentrado em termos de repercussão no meio de intelectuais do cinema. Não é exagero supor que os barulhentos artigos de jornais haviam criado o estofo necessário para que o livro, com seu perfil ambicioso e totalizador, pudesse ser recebido com polêmicas e debates de alta relevância. Basta notar sua recepção crítica no calor da hora (VÁRIOS AUTORES, 2003, p. 177-221). A partir de um entendimento teórico-metodológico baseado na produção de crítica cultural de Raymond Williams (2011; 2007) e na obra As Teorias dos Cineastas (2012), de Jacques Aumont, esta comunicação analisa o livro RCCB como uma forma material do tipo criativa, que, por sua vez, se desenvolveu a partir de um tipo de formação social específica, muito própria dos anos 1960, na América Latina. Nesse horizonte teórico e conjuntural, RCCB tem importância ímpar no entendimento da forma como este cineasta reflete sobre o seu ofício e sua arte. Afinal, há no livro o empenho de seu autor em construir uma conjuntura histórica conveniente, que para isso justapõem-se os cineastas aceitos pelos seus feitos e os rejeitados pelas suas inadequações ao campo das artes em seus respectivos momentos de atuação. Glauber não hesita: entre os cineastas brasileiros de preferência há os de maior preferência. Estes são salientados pela afinidade com as linhas de forças costuradas pela escrita histórica presente no livro. Talvez a história do Cinema Novo, a mais oficial delas, nascesse daí, dessa ligação entre o que fora forjado como linha do tempo, presente em RCCB, e o que Glauber Rocha procurou mostrar como a melhor e mais viável opção de cineastas e estilos, para só assim, dentro desses limites, estabelecer um verdadeiro cinema moderno brasileiro em sua representatividade das condições políticas de seus participantes. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Trad. Marina Appenzeller. 3. ed. Campinas: Papirus, 2012.
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