ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Do cômico ao sério? A cidade-empresa no período exílico de Woody Allen |
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Autor | Ana Paula Bianconcini Anjos |
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Resumo Expandido | Em 2015, Allan Stewart Konigsberg completa 80 anos. Há mais de meio século, a obra e a vida pessoal de Woody Allen passam pelo escrutínio do público e da crítica. Há uma vasta bibliografia sobre o diretor nova-iorquino que nos últimos anos vem sendo rediscutida, o exemplo mais recente é a coletânea de ensaios organizada por Peter Bailey e Sam Girgus. Publicado em 2013, o compêndio retoma os principais temas ao longo da obra do diretor e inclui ensaios sobre o chamado período exílico. A obra recente do cineasta, a partir de Match Point (2005), passou a ser entendida como fase exílica: “marcada pela frequente ausência de Woody Allen como personagem e pelos locais de filmagem fora dos Estados Unidos” (MACREADY, 2013, p. 95). Para Macready, o período “mais sério”, fase “menos cômica e narcisista”, representaria a procura pela “difícil redenção”.
Em oposição à tendência da crítica que classifica a obra recente de Allen como “fase séria” em detrimento das primeiras comédias, como se houvesse uma oposição entre “cômico x sério” (LEE, 2002, p. 7), o trabalho proposto aqui visa compreender o chamado período exílico como um momento de síntese em constante diálogo com o início da carreira do diretor: a formação pela via da comédia stand-up nova-iorquina. Em solo europeu e à contrapelo da cartilha seguida por parte dos cineastas e da crítica, Allen aproxima-se mais de seus camaradas, como Mort Sahl, do que da figura construída do auteur: é como se Allen, instância narrativa, lesse a tradição europeia com as lentes do comediante stand-up. O preconceito da crítica em relação aos primeiros filmes de comediantes não é novidade, mas sintomático, conforme demonstra Marcos Soares, essa tendência da crítica pode ser observada também na recepção da obra de Buster Keaton e Charles Chaplin: “As interpretações mais correntes desde os anos 30 têm insistido, a partir da comparação entre, por exemplo, os curtas-metragens iniciais de Chaplin e de Keaton e suas obras-primas posteriores (como Luzes da cidade ou A General), no caráter “primitivo” dos primeiros filmes e de sua superação através da integração da “gag” na tessitura narrativa, de modo a torná-la funcional da perspectiva do desenvolvimento do enredo e não apenas uma interrupção ‘desnecessária’” (SOARES, 2014, p. 191). Conforme argumentaremos, a tradição cômica ajuda a entender o período exílico de Woody Allen, por exemplo, a estrutura episódica e paródica reaparece em Para Roma com Amor (2012), mas não apenas. Toda a carreira do cineasta pode ser entendida a partir desta perspectiva, a citação paródica, as gags do comediante stand-up nova-iorquino e o diálogo crítico com a tradição europeia vão de Que é que Há, Gatinha? (1965), filmado em Paris, até o mais recente Magia ao Luar (2014), situado na Riviera Francesa. Outro fator decisivo para entender a chamada “questão europeia” nos filmes de Allen remonta à sua biografia e à crítica à tradição judaica. Allen faz uma releitura do shtetl judaico-europeu no Brooklyn em Radio Days, parodiando não apenas a tradição europeia como também a influência do rádio nos anos 1940, notadamente Carmen Miranda. Para o menino do Brooklyn, Manhattan seria uma espécie de ilha da fantasia, baseada nas memórias dos filmes que Allan assistiu durante a infância. Nesse sentido, o seu olhar sobre a Europa também faria parte dessa constelação de fantasias e memórias. É possível inclusive afirmar que há cinquenta anos atrás, a Europa apresentava Allen para o mundo e o mantém até hoje ativo. Não é somente em busca dos incentivos fiscais oferecidos pelos países europeus que o diretor vai para a Europa, mas também o seu público é, majoritariamente, europeu: “Na Europa, em geral, eu me dou bem. Nos Estados Unidos, como você sabe, até quando tenho apoio da crítica, isso nem sempre se traduz em bilheteria” (LAX, 2006, p. 417). E é justamente a partir de seu olhar do Brooklyn sobre Manhattan que Allen tecerá a sátira política contemporânea do cartão-postal corporativo. |
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Bibliografia | Arantes, Otília Beatriz Fiori. Berlim e Barcelona: duas imagens estratégicas. São Paulo: Annablume, 2012.
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