ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | As Dimensões dos Sentidos na Direção de Arte. |
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Autor | Ivan Ferrer Maia |
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Resumo Expandido | A qualidade da produção plástica dos elementos pertinentes à Direção de Arte pode influenciar diretamente a narrativa fílmica. Ela promove, no âmbito da cognição e percepção, significados socioculturais, psicológicos, econômicos, históricos entre outros (Ettedgui, 1999; Hamburger, 2014; Lobrutto, 2002).
A Direção de Arte pode apenas “ornamentar” a proposta do roteiro ou ir além, se estender a jogos sígnicos, que valorizem o roteiro ou que subvertem a linguagem convencional. Nessas duas últimas situações, a Direção de Arte pode promover alternâncias na escala da narrativa a outros estágios de sentidos. A subversão na Direção de Arte ocorre, muitas vezes, com o deslocamento ou ruptura do espaço-tempo linear ou cartesiano, apontando formações axiomáticas tanto no aspecto metalinguístico quanto na dobra das dimensões espaço-tempo, ocasionando realidades que beiram à metafísica. Mesmo que não seja a proposta do roteiro, a Direção de Arte pode apresentar a ruptura do espaço-tempo linear, promovendo novas instâncias de linguagens. Dessa forma, eleva-se o status da Direção de Arte, qualificando-a com maior autonomia. A ruptura das dimensões espaço-tempo não se limita ao universo cinematográfico, ela também se estende à Direção de Arte para a TV e para a Internet, seja de produtos voltados à ficção e à não ficção. A fim de limitarmos os exemplos para o presente estudo, citamos duas produções cinematográficas, nas quais as Direções de Arte já foram estudadas no âmbito iconográfico. Centramos, nesse momento, no campo dimensional. O primeiro exemplo é a A Festa de Babette (franco-dinamarquês, 1987), dirigido por Gabriel Axel, Direção de Arte de Sven Wichmann, roteiro adaptado da obra de Karen Blixen. O segundo exemplo, citamos O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante (Reino Unido, França e Holanda, 1989), dirigido por Peter Greennaway, Direção de Arte de Ben Van Os e Jan Roelfs. São dois filmes europeus, produzidos na década de 80 e possuem a gastronomia como temática. O espaço-tempo produzido pela Direção de Arte no filme A Festa de Babette mantem-se pertinente a região da península da Dinamarca e a época de 1871. No contexto da estética romântica, a produção de objetos, cenografia, figurino, maquiagem e paleta de cores integram-se no discurso que reforçam o zeit geist tempo-espacial. O salto da escala de sentidos ocorre em decorrência, principalmente, da produção de objetos da cena da festa oferecida por Babette . Os objetos são revelados de maneira mais puristas, com texturas e corporeidade dos alimentos que desencadeiam sensações ao nível do sublime. Em O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante existem dobras no espaço-tempo da Direção de Arte, que ocasionam rupturas na estética linear para uma justaposição de dimensões. A estética neobarroca se altera em cenas e planos para criar figuras de linguagens e ambientações, principalmente no restaurante do megalomaníaco Sr. Spica, que tem a traição como o principal prato no cardápio. Na Direção de Arte de A Festa de Babette há uma camada estética espaço-temporal. A movimentação ao sentido metafísico ocorre no eixo da profundidade. Os objetos são apresentados de maneira mais analítica, com maior atenção dada aos alimentos e com auxílios de planos estáticos de contemplação. A Direção de Arte do filme O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante transita em múltiplas dimensões ou camadas, com alterações significativas de cor, figurinos, conforme os cenários são alterados. E em cada dimensão se faz o jogo de linguagem simbólica, que auxilia na promoção de ações sinestésicas e gerar novos sentidos à experiência que vão além da representação visual do roteiro. A Direção de Arte pode ser trabalhada em uma única dimensão ou em múltiplas dimensões. A escolha fica atrelada a concepção estética e a força autônoma da mesma. |
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Bibliografia | ETTEDGUI, Peter. Screencraft production design and art direction. Oxford: Focal Press, 1999.
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