ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Tramas audiovisuais: mapeando as relações entre TV e Cinema no Brasil |
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Autor | Miriam de Souza Rossini |
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Resumo Expandido | Desde 2004, quando comecei a estudar os primeiros movimentos de aproximação entre o cinema e a televisão no Brasil, fui percebendo: a) as diferentes estratégias de produção, tanto empreendidos por uma grande empresa como a Rede Globo, quanto por uma afiliada sua, a RBS TV; b) a mudança de comportamento dos realizadores de ambos os meios envolvidos nessas produções, o que acabou por impactar a própria produção cinematográfica brasileira recente; c) a capacidade de adaptação produtiva do cinema e da TV para atender às demandas de um mercado que se transforma cada vez mais rápido.
O compartilhamento de conteúdos entre cinema e TV, possível desde o processo conhecido como convergência tecnológica (Jenkins, 2008), foi aos poucos transformando nosso entendimento sobre o que seria o próprio de cada meio, bem como suas expressões estéticas. A afirmação feita por Arlindo Machado (1997a), em fins dos anos 1980, de que a diferença entre cinema e vídeo era “genética” não faz mais nenhum sentido. Explicava ele: "Aí está justamente o traço distintivo que separa cinema e vídeo: neste último, o processo genético de constituição da imagem está à mostra, impedindo que a restituição do mundo visível se dê às custas do mascaramento das técnicas construtivas. O vídeo, mesmo nesse nível mais elementar, já exibe sua enunciação, em prejuízo inclusive do ilusionismo de realidade, que no cinema é a base da verossimilhança. (Machado, 1997a, p. 41)" Nesta argumentação do autor estava presente o fato de que o cinema era fotoquímico e o vídeo era eletrônico; o primeiro processo reforçava a produção de uma imagem verossímil (e indicial), algo que o segundo processo destruía, ao decompor a imagem em linhas que precisa ser reconstituídas durante o processo de exibição para que a imagem pudesse, enfim, ser vista. Tal diferença técnica no nível de constituição da imagem diferenciava os dois meios audiovisuais, posicionando os produtores e os pesquisadores de cada meio em campos opostos. Teorias, temáticas, metodologias de pesquisa eram diferentes entre os pesquisadores de cinema e os de televisão. O mesmo ocorria no processo de produção, e no modo como os realizadores de cada meio se posicionaram inclusive em relação aos seus colegas do “campo oposto”. Jogos de identidade e alteridade foram duramente travados ao logo dos últimos cinquenta anos. No Brasil, por exemplo, esta diferença ainda expressa-se nas denominações dos cursos: cursos de cinema e audiovisual; ou de televisão e audiovisual. O que seria o audiovisual, neste caso, não é claro para ninguém, mas é preciso que se explicite esta fronteira entre os meios. E que se expresse um lugar “entre”, uma latência, um outro que em algum momento poderia vir a reivindicar o seu lugar de fato. Em diferentes eventos (incluindo este Seminário) e artigos (Rossini 2012a, 2012b,2014, p.ex) discuti aspectos desse cenário às vezes movediço e desigual. Hoje, para além de atender ao público tradicional de cada meio, busca-se também atingir a nova parcela que já assiste aos seus produtos audiovisuais prioritariamente pelos “canais da internet”. Se o período é muito curto, historicamente falando, as mudanças são muito grandes e, às vezes, acabam sendo banalizadas pela rapidez com que são substituídas. Desse modo, sistematizar esse panorama de uma década nos permite perceber alguns dos movimentos que foram feitos, retomados ou descartados durante o percurso. Pensamos, com isso, contribuir para uma proposta de história recente do audiovisual brasileiro, fora dos limites definidores do que são os meios. Se há algo que estas pesquisas permitiram entender foi a possibilidade de consolidação do conceito de audiovisual, proposta que venho defendendo há alguns anos e que pretendo aqui retomar, a fim de melhor estabelecer os seus contornos. |
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Bibliografia | CRETON, L. Le cinéma à l’épreuve du système télévisuel. Paris: CNRS, 2002.
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