ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Amizade, solidão e o sensorial em Uma Passagem para Mário |
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Autor | Armando Alexandre Costa de Castro |
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Coautor | Ana Ângela Farias Gomes |
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Coautor | Maria Beatriz Colucci |
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Resumo Expandido | Amizade, solidão e o sensorial em Uma Passagem para Mário
A história, a história do cinema, pode ser bastante labiríntica quando posta sob o signo da ruptura, do acontecimento disruptor. (TEIXEIRA, 2012, p.160). O trabalho apresenta e discute as experimentações e provocações evocadas pelo filme Uma Passagem para Mário (2014), procurando ampliar o debate acerca da linguagem cinematográfica comprometida com a experiência sensorial e percepto-cognitiva do outro (o espectador). O documentário dirigido por Eric Laurence retrata aspectos relevantes da condição humana: a amizade, o episódio da morte enquanto passagem, os sonhos, a espiritualidade, as utopias etc. Neste contexto, as experimentações de um jovem diretor pulsam por registrar, respeitosamente, a condição do amigo pernambucano, Mário Duques, sua trajetória, registros audiovisuais dos últimos dias de vida, memória, e tudo distante de uma narrativa de vitimização deste. Mário Duque é um mergulhador pernambucano portador de câncer no fígado, em estágio terminal. Sabendo disto, realiza uma série de registros do seu convívio familiar, social e profissional. Registros que passam a compor o próprio filme, motivado pelo sonho da dupla de realizar uma viagem até o deserto do Atacama, no Chile, saindo de Recife e passando por algumas cidades da Bolívia. Dupla desfeita, o diretor segue numa silenciosa viagem em homenagem ao amigo, registrando suas descobertas, surpresas, com lentes apontadas para o devir, a amizade, e para a consonância das relações, sentido e transitoriedade da vida. Um filme sobre a condição humana, mas, também sobre a linguagem cinematográfica, compondo um híbrido impactante, sensorial e reflexivo. Distante das narrativas clássicas, especialmente a narrativa indireta objetiva (TEIXEIRA, 2012), agrega características distintas do documentário poético, expositivo, participativo, reflexivo e performático (NICHOLS, 2005), ampliando as potencialidades do gênero, a partir da criatividade de seu diretor, ao usar, simultaneamente, conceitos como metalinguagem, enquadramentos não convencionais, paisagem sonora etc. Entre ruídos, diálogos, trilha musical inédita e exclusiva, e belas imagens das planícies e de alguns centros urbanos da Bolívia e Chile, eis que o filme não se estrutura em entrevistas e depoimentos sequenciados, mas é resultante de um processo dinâmico e uníssono que envolve uma sublime e “permanente negociação” (LINS; MESQUITA, 2008, p.26), ao passo em que reserva surpresas ao espectador, que, a esta altura, já se convence de que também viaja com Mário e Eric. Mergulho na condição humana, esgarçando os limites e possibilidades das realizações audiovisuais contemporâneas, numa forte tendência a realçar a força e relevância do discurso deleuziano acerca do campo das possibilidades relacionais entre o humano e suas tecnologias: “[...] as máquinas são sociais antes de serem técnicas. Ou melhor, há uma tecnologia humana antes de haver uma tecnologia material” (DELEUZE, 1988, p.49). Assim, o objetivo deste trabalho é discutir os aspectos conceituais presentes no filme, ressaltando que o registro tecnológico deste parece marcar a relevante busca por raízes – latino-americanas, por que não dizer? –, por laços fraternos, pela emancipação, e pela espiritualidade. No registro sobre a relação entre territorialidade, desterritorialização e construção da subjetividade, a busca por um cinema capaz também de constituir linhas de fuga (DELEUZE; GUATTARI, 1995) a partir de seu potencial narrativo. |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia – Volume 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995 (Coleção TRANS).
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