ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | SELFIE, Um documentar de si mesmo |
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Autor | Flávia Seligman |
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Resumo Expandido | Este trabalho coloca a moderna palavra selfie, figura carimbada das redes sociais, e seu ato correspondente, como forma de designar um estilo de documentar.
No Oxford Dictionaries encontramos como definição o verbete que “reúne o substantivo self (eu, a própria pessoa) e o sufixo ie como "Fotografia que alguém tira de si mesmo, em geral com smartphone ou webcam, e carrega em uma rede social." (Veja.com, 23/11/2013). Na realização audiovisual, estamos associando o selfie ao documentário de busca, como veremos a seguir. O termo busca foi colocado por Jean Claude Bernardet (2005) para classificar um documentário que estabelece um objetivo e tem no próprio filme a sua metodologia. São trajetórias, e na sua maioria (pelo menos as que estudamos e contamos aqui), na primeira pessoa. Uma experiência própria e tão só por isto pode ser registrada desta maneira, com o olhar do realizador autor, senhor do seu método, da sua busca e da elaboração de sua trajetória/forma de registro. Seu selfie. Esta pesquisa estabeleceu uma linha de estudo do documentário chamado por nós como de busca (sim, porque ainda consideramos cedo para uma classificação) que remonta ao filme Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, de 1984, entendido em nosso estudo como um dos primeiros filmes a desenvolver esta trajetória no país. Cabra marcado conta a história do próprio cineasta que voltou dezessete anos depois ao local onde esteve em 1964 para filmar a vida do camponês João Pedro Teixeira, que foi assassinado por ordem dos latifundiários do Nordeste. As filmagens de sua vida, interpretada pelos próprios camponeses, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Na retomada do projeto o diretor procurou a viúva Elizabeth Teixeira e seus filhos, dispersados pela onda de repressão que seguiu ao episódio do assassinato. O tema principal do filme passou a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocaram o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar. A reconstituição relação do diretor com Elizabeth Teixeira e a conseqüente reconstituição da própria vida dela com os filhos deu à Coutinho a possibilidade de retomar seu próprio passado, transformando Cabra num dos primeiros documentários entendido por nós como um filme de busca. A origem do termo se deu na análise de Bernardet a dois filmes, 33 de Kiko Goifman, (Brasil, 2003) e Passaporte Húngaro de Sandra Kogut, (França/Brasil, 2003), ambos narrados na primeira pessoa. No primeiro filme, o diretor, filho adotivo de uma família judia, propõe-se a buscar sua mãe biológica. Como naquele momento completava 33 anos, deu-se 33 dias para cumprir a tarefa. No segundo filme, a diretora brasileira e neta (por coincidência) de judeus húngaros, resolve solicitar um passaporte que lhe dê esta nacionalidade, enfrentando todas as animosidades possíveis. Os dois filmes possuem um objetivo, os dois filmes desconhecem o resultado final, os dois filmes têm foco no processo. Por fim, mais recentemente em 2011 e 2012, encontramos respectivamente os filmes Diário de uma busca de Flávia Castro e Elena de Petra Costa. Mais uma vez duas histórias pessoais onde as autoras/ realizadoras voltam-se para suas próprias perguntas de vida e buscam traçar um caminho para respondê-las. Flávia retorna aos passos do pai, militante político, exilado durante a ditadura militar brasileira e depois morto em circunstâncias misteriosas numa ação nos anos 1980, em Porto Alegre. Já Petra busca a história da irmã, a jovem Elena que fora à Nova York para estudar teatro e muito deprimida acabou suicidando-se. Também trajetórias familiares, também buscas não programada, também metodologias em construção. |
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Bibliografia | 1. BERNARDET, Jean Claude. Documentários de busca: 33 e Passaporte Húngaro. In MOURÃO, Maria Dora e LABAKI, Amir (orgs.). O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
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