ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Fios, tramas e tecido narrativo na costura da intriga em Breaking Bad |
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Autor | João Eduardo Silva de Araújo |
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Resumo Expandido | Esta apresentação objetiva examinar o modo como o seriado televisivo Breaking Bad estrutura suas narrativas de longo prazo, dando ênfase às dimensões não-episódicas da intriga da série. Para tal, recorremos aos conceitos de fio (thread), trama (braid) e tecido (fabric) narrativos, conforme desenvolvidos por Mark Wolf (2012, p. 199-201).
Segundo Wolf, um fio narrativo é uma estrutura composta por um conjunto de eventos conectados por vínculos causais que envolvem certo grupo de atores em um dado curso de ação. O autor repara que embora esta estrutura geral permaneça, diversos estudiosos da narratologia propuseram modos distintos de pensar estes fios. Um dos esquemas mais prementes neste sentido é o modelo atuacional de Greimas (1976, p. 225-250), cuja utilidade no estudo de ficções televisivas já foi atestada por Balogh (2000, p. 58-65). Seguindo o modelo actancial greimasiano, defendemos ser possível identificar 13 fios narrativos distintos sustentados a longo prazo em Breaking Bad. Argumentamos que a decomposição da trama nestes 13 fios e a apreciação detida de tais fios e dos modos como eles interagem nos permite observar um conjunto de elementos vinculados à série, como as variações de ritmo ao longo das múltiplas temporadas, o nível de dispersão do enredo da obra e as matrizes de gênero com as quais o seriado dialoga. No caso especifico de Breaking Bad foi possível observar que a série vai se tornando mais lenta com o tempo, mantém seu enredo bastante condensado do piloto ao series finale e incorpora matrizes como o western, o noir e o drama burguês. Todavia, a despeito da importância dos fios narrativos, é preciso explicitar que eles não são as unidades maximais do enredo. Ainda seguindo Wolf (2012), entendemos que – dado que fios narrativos diversos podem se desenvolver concomitantemente e partilhar os mesmos materiais diegéticos (tendo atores, ambientes e mesmo eventos em comum) – estes fios costumam se entrelaçar uns com os outros, compondo uma ou mais tramas que se organizam em torno de um mesmo lugar, personagem ou tema. Estas tramas podem ter ainda importância hierárquica variável para o tecido narrativo, e com frequência uma delas se apresenta como principal e as outras como secundárias. É possível perceber ainda que um mesmo fio pode servir à sustentação de várias tramas, a partir de distintas teias de relações que venha a estabelecer com outros fios na estruturação global do tecido narrativo de uma obra. Dada a ênfase de Breaking Bad nos personagens, optamos por estabelecê-los como centro organizador das tramas a partir do exame dos modos como os fios narrativos da série interagem entre si e dinamizam uns aos outros através da partilha de actantes e mesmo de eventos importantes. Assim, ao mapear em minúcia as interações entre os 13 fios, chegamos a um total de cinco tramas, a mais marcante das quais se configura em torno de Walter White, protagonista da série. As outras se organizam em torno de Skyler White, Jesse Pinkman, Hank Schrader e Gustavo Fring, que se juntam a ele no time de personagens centrais. A observação das tramas a partir deste ponto de vista (isto é, do foco nos actantes) permite hierarquizar os personagens da série conforme seu nível de importância, delineando um mapa de relações de protagonismo, antagonismo e coadjuvância tanto em situações específicas quanto no seriado como um todo, tarefa que Mittell (2012-13) considera crucial na análise de um seriado. Por fim, a cabo da apresentação pretendemos ponderar que os conceitos de fio, trama e tecido narrativos podem ter acuidade mais generalizada no exame de ficções seriadas televisivas, trazendo uma contribuição metodológica importante na observância das dimensões não-episódicas destes produtos, permitindo avançar em distintas frentes ao impulsionar o exame de elementos tão diversos quanto os gêneros ficcionais, o ritmo narrativo, a maior ou menor dispersão/condensação do enredo e os mapas de relações entre os personagens. |
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Bibliografia | BALOGH, Anna Maria. O discurso ficcional na TV: sedução e sonho em doses homeopáticas. São Paulo: EdUSP, 2000.
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