ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O espaço na construção dramatúrgica no filme Hoje de Tata Amaral |
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Autor | Nanci Rodrigues Barbosa |
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Resumo Expandido | No filme Hoje, dirigido por Tata Amaral, a personagem Vera, uma ex-militante política, compra um apartamento com a indenização recebida pelo desaparecimento do marido durante o regime militar. No dia da mudança, o marido reaparece mobilizando uma discussão sobre a vida em suspensão ao longo destes anos. No apartamento antigo, no centro da cidade de São Paulo, muitas camadas da esfera pessoal e política vão se revelando e sendo enfrentadas.
Partindo da visão de Guattari e Rolnik sobre a construção da subjetividade a partir da alteridade, que nos remete diretamente a um jogo de relações entre sujeitos, esta apresentação busca destacar a relevância do espaço como mobilizador e atuante de dinâmicas e do jogo entre as subjetividades dos personagens na construção narrativa do filme. No filme de Tata Amaral mais do que um lugar onde os personagens se encontram e debatem, o apartamento é o espaço de acontecimentos singulares que recebeu uma função dramatúrgica significativa. Neste apartamento, temos corpos em ação, interagindo entre si, mas principalmente com o próprio apartamento, com a chegada das caixas, a abertura de janelas e a invasão da luz, o lidar com canos quebrados e torneiras que não funcionam, os armários, os cantos e as paredes que ganham expressividade. A reflexão em torno da dimensão ocupada pelo espaço nesta obra tem como ponto de partida o pensamento de Barbosa sobre a relevância de uma criação estética cinematográfica que busque a potencia reveladora da experiência social que o autor considera “um artificio de representações do obscuro e do ausente: poiésis que cria o mundo e decifra a vida” (2000: 85). Uma reflexão sobre espaço e representação no cinema, conta com outros autores. A inserção do espaço observada no filme nos instiga resgatar a ideia de Machado (1990) de que a geografia é um modo de pensar que privilegia o espaço, e como o cinema pode potencializar o espaço narrativo. Em Harvey (1993) a forma como o espaço é representado implica na maneira como interpretamos o mundo e também na forma como agimos em relação a ele. Para Comolli (1994, apud Barbosa) a mise-en-scène cinematográfica se confronta com mise-en-scènes sociais possibilitando reinterpretar as interpretações e retraduzir as traduções onde o espaço narrativo, como contra-campo do visível possibilita reconhecer o espaço geográfico como diversidade da existência humana. Desta forma, o apartamento do filme Hoje se insere como elemento fundante da proposta do autor, um espaço-relação, que envolve memória, afetos, vida política, momento presente, um tipo de acerto de contas com toda carga de tensões advindas dos conflitos onde dimensões de espaço público e vida pessoal e história politica do pais se articulam. |
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Bibliografia | BARBOSA, Jorge Luiz. A arte de representar como reconhecimento do mundo: o espaço geográfico, o cinema e o imaginário social. In Geografia, ano II, no. 3, 2000. Disponível em http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/30/28, Acessado em 03/10/2014.
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