ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | IMAGEM E NARRATIVA COMO CAMPO DE FORÇA POLÍTICO-AFETIVO DO PERSONAGEM |
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Autor | Márcio Zanetti Negrini |
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Resumo Expandido | Este painel propõe-se a refletir as relações entre imagem, narrativa e o político por meio da subjetividade. Desse modo, é realizada uma análise fílmica dos aspectos político-afetivos do personagem Boca de Ouro do filme homônimo dirigido por Nelson Pereira dos Santos em 1962. O político é tratado no cinema na perspectiva de Alain Badiou (2004), para quem, os personagens, manifestam-se politicamente nas formas de resistência as dominações político-sociais de seus afetos. Com esse pressuposto, procura-se refletir como o personagem Boca de Ouro produz envolvimentos político-afetivos em seu cotidiano em vista das seguintes questões: como e em quais circunstâncias da inter-relação imagem-afeto-narrativa se manifestam suas resistências político-afetivas? E, ainda, quais disputas produzem sujeições que resultam em seus condicionamentos político-sociais?
Para isso, mobiliza-se um quadro teórico composto por Jacques Rancière (2012), Sigfried Kracauer (2001) e Gilles Deleuze (1985). Compreende-se por meio da perspectiva de Kracauer (2001) e Deleuze (1985), que a materialidade da representação cinematográfica é composta por afetos. Neste sentido, o rosto do personagem, assim como os demais elementos visuais que compõem os seus enquadramentos em primeiros planos, são suportes imaginários que revelam formações afetivas. A partir disso, se estabelece uma relação entre imagem e narrativa por meio do ponto de vista de Rancière (2012). Esse autor permite compreender a “regulagem” existente entre a visualidade dos elementos imagéticos e a narração fílmica. Tal composição teórica repercute em análises que notam a materialidade do primeiro plano cinematográfico como amplificação dos sentidos narrativos do filme. Metodologicamente a análise fílmica é realizada a partir da observação de figuras elaboradas pelos enquadramentos em primeiro plano do personagem. As imagens do rosto de Boca de Ouro coadunam-se a narrativa do filme produzindo sentidos ambivalentes quanto ao pressuposto das "lógicas de resistência" afetiva compreendidas com Alain Badiou (2004). Ora, se existe movimento de resistência, significa que existe princípio de sujeição. Decorre disso que as categorias de análises criadas percebem esse duplo movimento entre a emancipação político-afetiva e o condicionamento político-social. Ao relacionar as figuras compostas pelos enquadramentos em primeiro plano do personagem as categorias de análise "rosto falsário" e "rosto delirante", percebe-se que os movimentos produzidos entre as relações imagético-narrativas resultam em campos de força. Ou seja, ora a imagem revela formas de resistência, e a narrativa, sujeições, ora a narração produz sentidos de resistência e a imagem revela estabilizações nas formas de transformação afetiva do personagem. Nota-se com isso que as categorias de análise "rosto falsário" e "rosto delirante" remetem-se umas às outras constantemente. Assim, as contradições nas formas de resistência político-afetivas desse personagem estão implicadas na invasão de sentidos da narrativa pelas imagens, do mesmo modo que a narração também força as imagens na produção de novas significações que formam as disputas entre sujeições político-sociais e emancipações político-afetivas. A análise mostra que o político-afetivo do personagem é formado através de campos de forças produzidos pela interlocução imagem-narrativa. Tratam-se de forças de transformação ou conformação dos sentidos político-sociais implicados na narrativa do filme Boca de Ouro (1962). |
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Bibliografia | BADIOU, Alain. El cine como experimentación filosófica. In: Pensar el cine 1: imagen, ética y filosofia. Gerardo Yoel (Org.). Buenos Aires: Manantial, 2004.
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