ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | HITCHCOCK/ROHMER: “UM CORPO QUE CAI” EM “AMOR À TARDE” |
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Autor | Alexandre Rafael Garcia |
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Resumo Expandido | Este trabalho apresenta intersecções estéticas e psicológicas entre os filmes “Um Corpo que cai” (1958), de Alfred Hitchcock, e “Amor à tarde” (1972), de Éric Rohmer, ainda não exploradas no campo da análise fílmica. Ainda que as filmografias dos dois diretores seja bastante diversa esteticamente, a influência de Hitchcock sobre Rohmer é perceptível e compreensível.
Éric Rohmer foi um cineasta francês ativo na produção de longas-metragens. Entre 1959 e 2010, ano de sua morte, ele lançou 23 longas-metragens, sendo boa parte de seus filmes agrupados em três ciclos: “Contos morais”, “Comédias e provérbios” e “Contos das quatro estações”. Antes de se notabilizar como diretor, Rohmer consolidou seu nome como crítico de cinema nas páginas da revista “Cahiers du cinéma”, para a qual escreveu de 1951 a 1963. Ele fazia parte do grupo apadrinhado por André Bazin e conhecido como “jovens turcos”, que viriam a consolidar a “nouvelle vague”, na passagem das décadas de 1950 e 1960. Enquanto críticos, eles também eram chamados de “hitchcocko-hawksianos”, por sua defesa apaixonada a parte do cinema clássico de Hollywood, principalmente de diretores como Hitchcock e Howard Hawks, quando estes ainda não eram unanimidades artísticas. Em 1957, pela primeira vez na história, Claude Chabrol e Rohmer publicaram um livro exclusivamente sobre Hitchcock. A obra, intitulada “Hitchcock”, abordava em ordem cronológica e de maneira profunda os primeiros quarenta e quatro filmes do diretor. Os escritos consistiam na defesa sistemática do cinema produzido por Hitchcock: a sua estética, o seu modo de encenação e seus temas. O livro é seminal na defesa de Hitchcock como um grande artista e consolidou algumas concepções sobre sua obra que são repetidas até hoje, como a questão de “transferência de culpa” e a “metafísica católica”. No final da década de 1960, Rohmer se consagra como cineasta com seus “Contos morais” – o ciclo de filmes composto por “A Padeira do bairro” (1963), “A Carreira de Suzanne” (1963), “A Colecionadora” (1967), “Minha noite com ela” (1969), “O Joelho de Claire” (1970) e “Amor à tarde” (1972). Tais obras possuem uma abordagem estética realista do espaço, da trama e das atuações, além valorizar a verborragia dos personagens. Todos são concentrados nas questões morais e nas relações sentimentais dos personagens, evidenciando um cinema objetivo e transparente. Mas, “Amor à tarde” é um caso particular na filmografia de Rohmer, totalmente calcada na abordagem estética realista. O filme apresenta alguns minutos de sequências construídas em chave onírica, que contam com trilha sonora não-diegética e completa ausência de som direto, além de zooms e planos em close. Ainda que a admiração de Rohmer por Hitchcock tenha se tornado pública por meio de seu trabalho como crítico, os filmes de ambos são bastante diversos esteticamente. Enquanto Hitchcock estava no epicentro da produção cinematográfica industrial (Hollywood), Rohmer se beneficiou da florescência dos cinemas modernos no fim da década de 1950 para dar início à sua produção autoral. Em termos estéticos e de modos de produção, seus filmes se relacionam mais com o cinema de Roberto Rossellini do que com o de Hitchcock. Mas, a partir desta análise proposta, fazendo uma aproximação entre os filmes “Um Corpo que cai” e “Amor à tarde”, é possível perceber alguns elementos visuais e psicológicos comuns em ambos os filmes. Entre eles: 1) Questão do voyeurismo; 2) Jogo de vidas duplas experimentado pelos protagonistas; 3) Idealização de uma vida amorosa impossível; 4) Sentimento de culpa; 5) Questão da arquitetura; 6) Mimetização de planos. Tais elementos são destacados e analisados neste trabalho, levando em conta os comentários críticos de Rohmer sobre “Um Corpo que cai” e também as semelhanças encontradas entre ambos os filmes, sob o ponto de vista da “mise en scène” e da análise fílmica. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. “Figuras traçadas na luz”. Campinas: Papirus, 2008.
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