ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Corpo em Cena: o live cinema em circuito fechado |
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Autor | Rodrigo Corrêa Gontijo |
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Resumo Expandido | O live cinema é uma prática artística onde o realizador se apresenta ao vivo diante da platéia editando e manipulando as imagens de seu filme, enquanto a projeção acontece simultaneamente. A partir de uma análise do campo notamos que os modos de produção de imagem e os procedimentos narrativos determinam traços recorrentes e padrões que apontam para algumas tendências, dentre elas, o live cinema em circuito fechado.
O live cinema em circuito fechado parte do registro de ações performativas, edição e manipulação destas imagens e projeção, que acontecem simultaneamente no instante da apresentação, a partir de um sistema integrado de câmeras em circuito fechado. Esta proposta artística herdou características das vídeoinstalações e videoperformances que surgiram ao longo dos anos 60 e 70, porém incorporando a dimensão da montagem e da manipulação das imagens durante o ato performático. Esta pesquisa parte da análise das performances Eile (Yroyto) apresentado no FILE - SP (2009) e Tabuleiro: dois ou mais pretextos poéticos (Edith Derdyk, Lua Tatit, Rodrigo Gontijo, Dudu Tsuda) apresentado no SESC Pompéia - SP (2014) para, a partir dos conceitos de cinema do corpo e performatividade, refletir, compreender e delimitar esta proposta de cinema ao vivo, que muitas vezes estabelece um diálogo com as artes visuais, cênicas e performáticas. Utilizando-se de bolas, papéis, fotogramas, líquidos e poeiras em frente à uma câmera à pino (zenital), o artista francês Yroyto apresenta Eile (2009) onde imagens figurativas transformam-se em abstratas e oníricas através de sobreposições e sobreimpressões criando fluxos imagéticos dinâmicos e ritmados. Em Tabuleiro, o diálogo entre live cinema, artes plásticas, dança e música produz videodanças ao vivo onde o registro do corpo, através de 4 câmeras em circuito fechado, apresenta uma movimentação sobre uma paisagem topográfica formada por empilhamentos de papel organizados em diferentes alturas. Tanto Tabuleiro quanto Eile, os registros videográficos apresentam durações e temporalidades que os fazem se afastar do presente linear e de suas características habituais propondo novas formas, imagens e sentidos: “não é mais seguir e acuar o corpo cotidiano, mas fazê-lo passar por uma cerimônia, introduzi-lo numa gaiola de vidro ou num cristal,.... que dele faça um corpo grotesco, mas também extraia dele um corpo gracioso ou glorioso, a fim de atingir, finalmente o desaparecimento do corpo visível” (DELEUZE: 1990, p. 228). Nos trabalhos aqui analisados vislumbra-se o corpo e sua imagem, um cinema do corpo, que se apresenta por vezes de maneira mimética em relação a seu referencial, e por outras propõem uma dessemelhança que abrem espaços para construções poéticas, gerando novas imagens e sentidos. Em ambos os casos, o corpo e seu duplo projetado apontam para um estado de presença, que se constrói no instante da criação, através de ações performativas. O conceito de performativo no campo da arte contemporânea refere-se a ações “auto-referenciais e constitutivas de realidade, capazes de conduzir transformações do artista e dos espectadores” (FISCHER-LICHTE, 2011, p.51). Tabuleiro e Eile, cada um a sua maneira, propõem a construção de subjetividades no ato do fazer, no momento da realização, revelando a efemeridade de corpos que performam diante de câmeras e promovendo novas formas de experiências cinemáticas que desconfiguram e reconfiguram as dimensões do live cinema. |
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Bibliografia | CARLSON, Marvin. Performance – uma introdução crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
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