ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | As relações entre cinema e teatro de revista: uma análise textual |
|
Autor | Evandro Gianasi Vasconcellos |
|
Resumo Expandido | Na história do cinema brasileiro o nome de Luiz de Barros é sempre lembrado, seja devido a sua filmografia extensa, seja pelo estigma de diretor desleixado e que geralmente fazia filmes em prazos bastante curtos e com poucos recursos. Contudo a atividade profissional de Luiz de Barros não se restringiu ao cinema, pois também desenvolveu importantes trabalhos em companhias teatrais, dirigiu shows de cassino, prólogos cinematográficos e organizou bailes de carnaval. Essa intensa atividade artística, de certa forma, exerceu influência em muitos filmes que realizou, principalmente nas comédias. Em filmes desse gênero, realizados pelo diretor, existe uma forte relação com aspectos característicos do teatro de revista, tipo de espetáculo em que Luiz de Barros trabalhou como diretor, cenógrafo, figurinista, autor de peças e, até, montou companhias, sendo a Ra-ta-plan a mais importante.
Em filmes como "Tereré não resolve" (1938), "Berlim na batucada" (1944) e "Caídos do céu" (1946), o tipo de humor, as situações, os personagens e a existência de sequências com números musicais ou esquetes trazem semelhanças com textos de autoria ou coautoria de Luiz de Barros, ou escritas por outros autores e encenados pela Ra-ta-plan. Esta comunicação pretende analisar alguns textos de revistas, estabelecendo conexões com filmes de Luiz de Barros realizados, sobretudo, nos anos 1930 e 1940. Estudos dessa natureza procuram expandir a abordagem da história do cinema brasileiro, buscando investigar o diálogo com outras áreas. Um tema bastante recorrente em esquetes de revista era o adultério, tanto do homem quanto da mulher, tratado de maneira cômica e geralmente sem grandes consequências para quem o comete. O enredo do filme "Tereré não resolve" (1938), baseado em um argumento de Bandeira Duarte, possui semelhanças na abordagem do tema, a infidelidade dos maridos, a troca de casais e o desfecho onde tudo é perdoado. No filme "O jovem tataravô" (1936), o argumento traz um pai de família que consegue trazer de volta à vida seu tataravô, que morreu ainda jovem. Este tenta conquistar as mulheres da casa e até deseja casar com a “bitataraneta”. O mesmo enredo, de autoria de Gilberto de Andrade, já havia sido trabalhado no esquete “O antepassado pirata”, da revista teatral "Só...risos", encenada pela Companhia Ra-ta-plan em 1927. Grande parte das comédias realizadas por Luiz de Barros eram filmes carnavalescos que incorporavam sambas e marchas como atrativos. Como a Ra-ta-plan não realizou revistas carnavalescas, a análise de textos de outras companhias e autores é relevante, pois nos permite observar diversos aspectos interessantes no diálogo entre os dois meios. A revista "Momo nas cabeceiras", de Gastão Barroso, encenada em 1944, apresenta diversos números musicais com sucessos do carnaval daquele ano, entre eles: “Odete” (Herivelto Martins e Donga); “A lavadeira” (Herivelto Martins); e “Bom dia, avenida” (Herivelto Martins e Grande Otelo), também presentes no filme "Berlim na batucada", filme de Luiz de Barros de 1944. Em "Rei Momo na guerra", revista carnavalesca de 1943, de autoria de Freire Junior e encenada pela companhia de Walter Pinto, há um fio condutor onde um soldado em uma trincheira sonha com o carnaval do Rio de Janeiro e, no decorrer da peça, irá organizar o desfile de um bloco, intercalado com quadros de música e esquetes cômicos independentes, como por exemplo, a paródia de Hitler no quadro “Canção de Pierrô”. Esse tipo de estrutura é encontrado também nos filmes citados. Assim, esta comunicação pretende tomar como objeto de análise o próprio texto das revistas, ao invés de se limitar a utilização de uma bibliografia específica sobre teatro, para estabelecer relações com os filmes estudados. |
|
Bibliografia | BARROS, Luiz de. Minhas memórias de cineasta. Rio de Janeiro: Artenova: Embrafilme, 1978.
|