ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A mise-en-scène da gemeidade em Carrego Comigo, de Chico Teixeira |
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Autor | Debora Breder |
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Resumo Expandido | Embora o estatuto e as possíveis funções de um relato pessoal, considerado como “história de vida”, sejam incertos e múltiplos, toda vida é também “cultura encarnada”, “cultura colocada em intriga” (Xanthakou, 2000). Nessa perspectiva os depoimentos de gêmeos – monozigóticos e dizigóticos, de mesmo sexo ou de sexos diferentes – sobre a experiência da gemeidade devem informar, para além das idiossincrasias e fantasmas individuais, algo que necessariamente encontra ressonâncias na própria cultura dos sujeitos em questão. Afinal, o modo como cada indivíduo percebe intimamente a sua condição e a vivencia nos mais diversos espaços sociais é conformado também por uma série de ideias, de imagens, de possíveis e impossíveis que reconfiguram relações, compromissos e desejos.
Considerando tal fato esta comunicação analisa o discurso simbólico sobre a gemeidade em Carrego Comigo (2000), de Chico Teixeira, documentário que coloca em cena vários pares de gêmeos. Entendendo por experiência uma forma histórica de subjetivação que implica “um jogo de verdade e relações de poder, formas de relação consigo mesmo e com os outros” (Foucault, 2002), interroga-se o modo pelo qual a experiência da gemeidade é encenada nesta narrativa que constituiria, segundo o próprio diretor, um “questionamento sobre a identidade”. Poder-se-ia discutir a “natureza dos laços” que unem os gêmeos, mas não duvidar de sua “força”, afirmaria René Zazzo, psicólogo que durante décadas acompanhou vários pares de gêmeos, recolhendo uma longa série de depoimentos. Considerados em conjunto, o que chama atenção nesses depoimentos é a reiterada afirmação da singularidade do laço que une esses irmãos – que se refiram à relação de forma positiva ou negativa; que digam que não podem viver um sem o outro ou um com o outro; que não se vejam há anos ou se vejam todos os dias. Em Carrego Comigo, ao que parece, reencontramos a colocação em discurso desta “espantosa sintonia afetiva” que existiria entre os gêmeos, tantas vezes tematizada na literatura e no cinema em nossa tradição cultural. É escusado dizer que não se trata, aqui, de considerar esses relatos sob a ótica dos saberes ‘psi’ e suas terapêuticas, mas de interrogar o quanto essas experiências narradas repercutem outras narrativas que alimentam o imaginário contemporâneo sobre a gemeidade. |
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Bibliografia | BELMONT, N. “Quelques sources anthropologiques du problème de la gémellité”. In: Topique: revue freudienne. № 50, Paris, 1992.
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