ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Luiz de Barros e a Companhia Industrial Cinematográfica |
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Autor | Luís Alberto Rocha Melo |
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Resumo Expandido | A presente proposta tem por objetivo apresentar uma pesquisa em andamento sobre a Companhia Industrial Cinematográfica, fundada em 1947 pelos engenheiros de som franceses Mathieu Adolphe Bonfanti e Paul Alphonse Duvergé, e pelo veterano cineasta Luiz de Barros. A CIC funcionou até 1957, quando foi vitimada por um incêndio.
A participação de Luiz de Barros na instalação da CIC no Rio de Janeiro e a vinda de Bonfanti e Duvergé ao Brasil remontam ao ano de 1946, quando os três se envolvem no projeto de criação de um grande estúdio que funcionaria nas proximidades do Pico do Itacolomi, Estado do Rio de Janeiro, intitulado “Cidade do Cinema”. Com o fracasso da iniciativa, Bonfanti, Duvergé e Luiz de Barros associam-se a outro grupo (liderado pela cantora lírica Gabriela Besanzoni Lage) e criam a CIC, em 31 de outubro de 1947. Mas daquele ano até 1950, a aparelhagem importada fica retida na alfândega. Com a saída de Gabriela Lage da sociedade, e pressionado pelas circunstâncias, Luiz de Barros intermedeia a compra de material pertencente a Adhemar Gonzaga (Cinédia): entre outros equipamentos, uma câmera Éclair com tripé, uma prensa tipográfica, duas moviolas, uma câmera Eyemo com três lentes, duas enroladeiras, uma copiadora Multiplex. Em outubro de 1949, a CIC (ou Laboratório Bonfanti, como ficou sendo conhecida) instala-se na rua Farani, no bairro de Botafogo. Inaugurando no país um moderno conceito de estúdio de som e laboratórios, a CIC disponibiliza pelo sistema de aluguel-hora, serviços de montagem, edição de som, dublagem, gravação de trilha musical e mixagem com mesa de seis canais. Além disso, Paul Duvergé foi o responsável por implantar o sistema de som DEB (Duvergé-Émon-Bonfanti), que consistia em um gravador de densidade variável com um galvanômetro acoplado, considerado “portátil”, mas ainda assim instalado em um caminhão, com uma equipe de três técnicos. O sistema DEB possibilitava filmar em exteriores, com maior qualidade e controle. No momento em que alguns realizadores buscavam sair dos estúdios em busca de maior realismo – caso de "Agulha no palheiro" (Alex Viany, 1953), por exemplo – o sistema DEB mostrava-se o mais adequado. A instalação do Laboratório Bonfanti ocorre em um momento de intensas transformações vividas pelo cinema brasileiro, apontando para duas direções opostas. A primeira delas tinha como horizonte a criação de grandes e modernos estúdios, visando a um padrão internacional de produção. Os estúdios paulistas da Vera Cruz e da Maristela são os exemplos mais bem acabados desse modelo. A segunda vertente percebia o cinema como um conjunto de atividades coordenadas, mas não exclusivamente atreladas aos estúdios. Incluem-se aí produtores independentes e empresas prestadoras de serviço “que se dispunham a prover a infraestrutura de produção e finalização, sem pensar em produção própria” (HEFFNER, 2006, p. 11). Neste último caso se enquadra a Companhia Industrial Cinematográfica. Chamo a atenção, por fim, para a participação de Luiz de Barros como sócio da CIC. Entre os anos 1946 e 1950, Luiz de Barros já intui que as transformações em curso tenderiam a não tornar imprescindível a participação do estúdio como unidade de produção fundamental. De um lado, com as leis de obrigatoriedade de exibição em vigor, Luiz de Barros enxerga na associação com os setores da distribuição e da exibição, o canal perfeito para tornar viável e contínua a produção de filmes. De outro, investe na sociedade com uma empresa prestadora de serviços (a CIC), distanciando-se das “cidades do cinema” e do mito do "studio system". Além da contribuição da CIC aos padrões técnicos cinematográficos brasileiros daquele momento, a sua criação indica o quanto a mentalidade industrial e as concepções de produção praticadas nos anos 1940-50 eram variadas, e não se prendiam apenas aos parâmetros instituídos, a partir de 1949, pelos grandes estúdios paulistas, como a Vera Cruz e a Maristela. |
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Bibliografia | ADES, Eduardo e MELO, Luís Alberto Rocha (Orgs.). Homenagem a Hélio Silva. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2009.
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