ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Os últimos (cinemas de rua) serão os primeiros... |
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Autor | Márcia Bessa (Márcia C. S. Sousa) |
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Resumo Expandido | Na década de 1950, o Estado do Rio de Janeiro contava mais de 200 salas de exibição cinematográfica em funcionamento nas calçadas das vias públicas (ruas, praças e avenidas) distribuídas pelos seus distintos municípios. Hoje, notícias dão conta da existência de somente sete daqueles tradicionais "cinemas de rua" – sala de espetáculos cinematográficos cuja localização privilegia as calçadas urbanas, tendo suas fachada e entrada ocupando diretamente esses passeios públicos – em atividade na capital fluminense e aproximadamente oito nas demais 91 cidades do Estado. Dos 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro, atualmente apenas 34 possuem salas de exibição cinematográfica e somente em oito dessas cidades encontramos cinemas na ambiência urbana compartilhada, no espaço público: "cinemas de rua".
Algumas dessas salas de exibição cinematográfica estão em funcionamento apesar de fechamentos, reformas e ameaças. Outras nasceram já nas últimas décadas do século passado num conceito híbrido entre rua e centro comercial. Outras ainda, indo na contramão do confinamento dos shopping centers, insistiram em marcar território nas ruas das cidades como novíssimas salas. Os poucos cinemas ainda em atividade nas ruas de alguns municípios fluminenses representam suportes de uma memória e história dos "cinemas de rua", amparando-nos ainda numa análise mais específica da problemática do desaparecimento dessas salas e do papel das inovações tecnológicas audiovisuais nesse processo. Esses cinemas não são (ou eram) simplesmente salas de projeção; são espaços de socialização comunitária, de construção da cidadania e de coexistência da diversidade. Com o desaparecimento do circuito exibidor das vias públicas interditam-se lugares vitais de lazer e cultura citadinos, de um regime de convivência urbana. Elimina-se assim um ponto de encontro, um local de discussão, um espaço de vivência genuinamente urbano. Optamos por desenvolver um trabalho de revisão hemerográfica apoiado em informações dos "cinemas de rua" registradas em uma significativa gama de publicações seriadas e periódicos reunidos nas 1.300 obras disponibilizadas na rede da Hemeroteca Digital Brasileira (FBN), que possam oferecer dados sobre as salas de cinemas fluminenses entre 1938-2014 . Uma investigação sobre o impacto dos "cinemas de rua" no oferecimento de alternativas de cultura e entretenimento dentro do Estado; bem como uma organização, documentação, análise e divulgação dos cinemas que ainda permanecem nas ruas de cidades fluminenses. Vasculhamos os apagamentos e permanências dos "cinemas de rua" e tentamos problematizar os reflexos dessa mudança no meio exibidor fluminense e na espectação. Nossos objetivos revestem-se de operações significantes (e re-significantes) que buscam situar essas salas de projeção remanescentes como testemunhas mnemônicas e históricas da exibição cinematográfica (e do próprio cinema) fluminense e brasileira. Nesse sentido, estamos procurando discutir as concepções, os pressupostos e os conceitos que estão mais especificamente relacionados a possíveis formas de reação edificadas pelos "cinemas de rua" ainda existentes. Deslocamos o enquadramento da tela para a sala, expandindo a área de atuação dos estudos sobre cinema e tornando mais ricas as abordagens. Ou como nos diz Schvarzman (2006), passamos a ver o cinema como “um foco privilegiado de observação de algo que é mais ampliado – o cotidiano, a vida na fábrica ou na cidade”. Elegemos um trabalho descritivo e analítico do processo de edificação, sustentação, reformulação e destruição dos "cinemas de rua" do Rio de Janeiro; cultivando suas possíveis relações estruturais com determinadas disposições físicas, modelos de espectação e novas tecnologias audiovisuais. Os "cinemas de rua" podem ser assim encarados como formas espaciais de apropriação da própria cultura fluminense, onde tais estruturas podem gerar implicações significativas sobre a memória, a história e a vida das comunidades citadinas. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Paulo S.; BUTCHER, Pedro. Cinema, desenvolvimento e mercado. RJ: Aeroplano, 2003.
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