ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Uma leitura dos roteiros de SSS contra a Jovem Guarda |
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Autor | Zuleika de Paula Bueno |
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Resumo Expandido | Essa comunicação parte do pressuposto de que uma determinada cinematografia é constituída tanto por obras audiovisuais produzidas e exibidas para pequenos grupos ou grandes plateias quanto por propostas nem sempre concretizadas ou finalizadas em imagens e sons. Projetos desfeitos, ideias controversas e roteiros inacabados, filmagens abandonadas, copiões nunca montados, esquecidos ou fracassados, compõem o grande universo "fora de quadro" do cinema, juntamente com os escritos, críticas, debates, cadernos de anotações, fotos, relatos e tantos outros documentos e materiais existentes além das obras entregues ao público. Nosso estudo aborda um desses trabalhos jamais concluídos. Trata-se do projeto cinematográfico SSS contra a Jovem Guarda, de Luiz Sérgio Person, cuja única materialização se resume a alguns poucos trechos filmados, anotações e diversos tratamentos de roteiro hoje depositados nos acervos da Cinemateca Brasileira.
O filme seria o primeiro a reunir como protagonistas os mais populares cantores da música juvenil brasileira de meados da década de 1960. A proposta partiu de Person, considerando o impacto do programa televisivo Jovem Guarda sobre o público adolescente. O cineasta acreditava que uma produção para o cinema com os ídolos desse fenômeno resultaria num grande sucesso de bilheteria e viabilizaria economicamente a realização de tantos outros projetos cinematográficos de sua equipe. Juntamente com Jean-Claude Bernardet e Jô Soares, ele deu início à elaboração do roteiro, processo que foi acompanhado de perto pelos produtores do filme, a agência publicitária Magaldi, Maia & Prosperi, que detinha a marca e o patrocínio do programa musical exibido aos domingos na TV Record. As filmagens começaram antes mesmo que o roteiro estivesse plenamente concluído, porém, divergências entre os diversos profissionais envolvidos no projeto levaram à interrupção definitiva dos trabalhos. A trama central do roteiro narra as peripécias de uma organização social conservadora (a SSS) empenhada em sequestrar um ídolo musical juvenil (Roberto Carlos) e submetê-lo a um procedimento cirúrgico capaz de impedi-lo de continuar sua carreira de cantor causando, assim, o fim do fenômeno da Jovem Guarda. Essa trama sustentaria o enredo da comédia musical juvenil imaginada pelos roteiristas e que empregaria recursos estilísticos do cinema moderno, cenas documentais e elementos narrativos característicos do cinema de gênero (principalmente o policial) articulados com o humor característico das chanchadas. A leitura dos diversos tratamentos do roteiro permite conhecer um projeto de cinema que não se concretizou naquele momento mas que evidencia o campo de possibilidades para o cinema de entretenimento trivial brasileiro no contexto e época em questão. Uma das grandes ousadias do projeto, por exemplo, era evidenciar na narrativa os processos de produção comercial do filme, incorporando de forma tensa e irônica os entrelaçamentos do filme com a indústria fonográfica, a publicidade e a televisão. De certa forma, o projeto de SSS contra a Jovem Guarda demonstra que um cinema moderno e de entretenimento não poderia nem abdicar das tradições do cinema popular já consolidadas nem aceitá-las passivamente. Os roteiros aparecem, assim, como vestígios de um processo de criação singular decorrente dos embates característicos do mercado cultural da época. |
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Bibliografia | ADAMATTI, Margarida Maria. Jean-Claude Bernardet assiste a Os Mansos: anotações para estudo de filme. Rebeca, edição 5, no.5, jan-jun 2014.
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