ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O uso de imagens de arquivo em documentários com povos isolados |
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Autor | Clarisse Maria Castro de Alvarenga |
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Resumo Expandido | A circunstância do primeiro contato entre colonizadores e povos originários se atualiza sistematicamente. Desde a atuação das frentes de expansão colonial até as políticas governamentais dos estados nacionais, o que está em jogo nesse controvertido encontro é uma intensa produção de significados tanto para os colonizadores, para as sociedades nacionais e para as populações originárias que sobreviveram ao contato.
Há, atualmente, duas regiões no mundo que concentram grupos de povos isolados. A primeira é a Floresta Amazônica brasileira, onde existem registros de 107 povos vivendo em isolamento hoje. O segundo é a ilha de Nova Guiné onde existem 44 registros de povos isolados. Minha proposta é comparar a forma como dois filmes, feitos respectivamente no Brasil e em Nova Guiné, se apropriam de imagens de arquivo sobre o primeiro contato para problematizá-lo. Pretendo analisar, portanto: Pirinop – meu primeiro contato (2007), de Mari Corrêa e Karané Ikpeng, e a chamada trilogia das terras altas, constituída pelos filmes First Contact (1983), Joe Leahy’s Neighbors (1988) e Black harvest (1992), de Bob Connolly e Robin Anderson. Em 1964, ocorre o primeiro contato dos índios Ikpeng com a sociedade nacional, numa região próxima ao Rio Xingu, no Mato Grosso. Esse contato foi filmado na época. O filme de Mari Corrêa e Karané Ikpeng atualiza esse encontro a partir do que restou dele: as lembranças dos índios, as imagens realizadas pelos brancos, a experiência do exílio e a luta para retomar o território. Conolly e Anderson investem sobre o material de arquivo filmado pelo próprio colonizador, Michel Leahy, ressignificando-o, cinco décadas depois do primeiro contato ter ocorrido nas Terras Altas. A importância desse material de arquivo está, entre outros motivos, no fato do processo de colonização ter ocorrido tardiamente nas Terras Altas, tendo o próprio colonizador tido a oportunidade de realizar suas imagens sobre o processo do contato enquanto ele transcorria. Diferentemente dos demais filmes de contato, nos quais cineastas filmam o contato, muitas vezes reproduzindo o olhar do colonizador, nesse caso é o próprio colonizador que filma. Pretendo comparar como as imagens foram tomadas nos dois casos e, em seguida, como elas foram retomadas a partir da realização dos filmes em questão, analisando os procedimentos que envolvem o uso dos arquivos em cada um dos dois casos. A cena intensa do contato será descrita a partir da noção de controlled equivocation (VIVEIROS DE CASTRO, 2004) e pela observação da emergência de um regime do tato (SERRES, 2001), para além do visível. Na montagem, ao retomarem (LINDEPERG, 2010) imagens filmadas por eles no passado, os cineastas criticam a tomada no que concerne à aproximação entre cineastas e filmados, indagando, a um só tempo, à relação documentária (COMOLLI, 2008) e à história. |
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Bibliografia | CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
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