ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Encontros e desencontros entre cinema e televisão no Brasil |
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Autor | Lia Bahia |
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Resumo Expandido | O projeto de audiovisual brasileiro contemporâneo passa por uma reinvenção singular, atravessada por transformações sociais, tecnológicas, econômicas, políticas e culturais, transnacionais e locais. As tendências e modismos globais são deglutidos dentro de uma historiografia marcada pela mediação, caracterizando um processo ambíguo e conflituoso no espaço audiovisual brasileiro. A própria categoria de audiovisual atropela as de cinema e televisão. Esse deslocamento de “termos técnicos” é carregado de significados que incorporam discursos e práticas.
O planejamento atravessado e entrelaçado das cadeias e circuitos produtivos se torna uma novidade fortemente apoiada e fomentada pelos discursos e ações das políticas públicas e iniciativas privadas. São acionadas metodologias para integração e fortalecimento do espaço audiovisual brasileiro, tanto em âmbito privado quanto estatal. A regulação do discurso através do Estado busca dar estabilidade à ordem da circularidade enquanto os agentes do mercado e esfera privada buscam reconstruir as práticas sociais circulares e híbridas. Como marcos institucionais – produção de discursos públicos - destaco a criação da Globo Filmes e a Lei 12.485 de 2011 que estabelece novos marcos regulatórios para a TV por assinatura. O diálogo entre cinema e televisão é atualizado em função das necessidades de fortalecimento do mercado audiovisual brasileiro em um contexto de globalização cultural e econômica. O pensar e fazer audiovisual cruzou fronteiras, quebrou preconceitos e ressignificou os campos para conformar o espaço audiovisual brasileiro comprometido com o mercado, cultura do consumo e cultura da convergência. Neste sentido, parece haver um novo projeto para o espaço audiovisual brasileiro no qual a circularidade torna-se um recurso para sua consolidação no mercado. O desenvolvimento integrado entre cinema e televisão faz parte deste projeto de criação do espaço audiovisual brasileiro declaradamente circular, deslizante, múltiplo e fluido. Se na história recente os campos se apoiavam no discurso da distinção, ocultando as práticas circulares entre cinema e televisão, a partir do final dos anos 2000, é possível observar novos processos no qual as interfaces e diálogos são positivados e estão em consonância com a cultura do consumo e com as singularidades existentes. Nos anos 2000, o espaço audiovisual nacional incorpora e explicita a circularidade em seu projeto, alterando discursos, políticas e práticas produtivas. A circularidade deixa de ser silenciosa para se tornar recurso de luta e disputa dentro do campo cultural, político e econômico. É, portanto, uma mudança no projeto político do espaço audiovisual brasileiro que se reflete no discurso do caráter positivo do trânsito entre profissionais, nas cadeias e circuitos produtivos do audiovisual brasileiro e nas formulações de políticas públicas. Esses processos e os produtos gerados a partir desta lógica circular explícita geram desencaixes e hibridações que perpassam os processos de produção, difusão, exibição e consumo cultural, abalando, e, em certa medida, resignificando as fronteiras hierárquicas demarcadas no espaço audiovisual brasileiro. Cinema e televisão irão se despir de velhas amarras distintivas para dar lugar à emergência do espaço e mercado audiovisual brasileiro. Ainda que tímido e frágil (se comparado aos modelos norte-americanos) há um processo de mudança política, econômica, discursiva e prática que atravessa os atores sociais que compõem o espaço audiovisual brasileiro. Entender e analisar as singularidades do processo de reinvenção do audiovisual brasileiro dos anos 2000 é o objetivo deste trabalho. Se a convergência transmidiática é uma tendência mundial do capitalismo e da cultura do consumo, no Brasil esse processo se apresenta de maneira particular, que coaduna com o processo de formação contraditória da América Latina. |
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Bibliografia | BRASIIL. Lei Nº 12.485, 2011.
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