ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O PACTO FÁUSTICO DE SOKUROV:
ARQUEOLOGIA DA MISE-EN-SCÈNE DO FAUSTO |
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Autor | Alex Sandro Martoni |
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Resumo Expandido | O Fausto de Aleksandr Sokurov não é só um filme sobre um homem que faz um pacto com o demônio; é também um filme sobre um cineasta que faz um pacto com a técnica. Na mesma medida em que Dr. Fausto busca a magia como forma de superação das limitações do logos enquanto modo de conhecimento do mundo; o realizador russo busca a técnica como um instrumento que, tal como a magia, apresenta o potencial de compor formas sensíveis de conhecimento do mundo; formas que tornam a experiência de estar-no-mundo de Fausto algo que nos afeta, enquanto espectadores, de modo claustrofóbico, alucinante e atordoante.
O pacto de Aleksandr Sokurov com a técnica é, efetivamente, uma aliança que define a própria identidade do seu cinema. Dentro dessa perspectiva, nossa incursão pelo Fausto do realizador russo se dará no sentido de compreender como o seu repertório de procedimentos técnicos realiza uma transformação alquímica da materialidade das imagens, onde o visual se torna táctil; o cintilante, opaco; o concreto, rarefeito. Nossas duas questões centrais, neste trabalho, serão: 1º) Quais operações técnicas são responsáveis pela construção da atmosfera inquietante do filme de Sokurov? 2º) De que modo essas operações desenvolvidas pelo realizador russo se inscrevem em uma ampla tradição de diálogo frequente entre técnica e mise-en-scène; tradição que nos permite localizar as ambiências de Fausto em práticas anteriores ao próprio cinema? No caso desta segunda questão, não se trata de buscar uma suposta linha evolutiva das montagens de Fausto, do teatro para o cinema, mas de tentar perceber, nas descontinuidades da história, uma espécie de recorrência no uso de determinadas tecnologias para se obter efeitos estéticos similares, fenômeno que se torna visível quando pensado na perspectiva de uma arqueologia das mídias. Dentro dessa perspectiva, propomo-nos a pensar em três campos de fenômenos materiais envolvidos na mise-en-scène do Fausto de Sokurov cujos discursos que os atravessam, dispersos no tempo e no espaço, nos ajudam a pensar a conformação das ambiências do filme; a saber: ponto de vista e movimento; luz e cor; e deformação; provocando uma espécie de sobrevivência de determinadas configurações visuais em diferentes períodos históricos. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
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