ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão: narrativas... |
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Autor | denise tavares da silva |
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Resumo Expandido | Título: "As coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão": narrativas da ausência em Acácio e El retrato postergado
Em um cenário marcado fortemente pela necessidade de memória, como nos lembra Sarlo (2007), assinalando, em especial, as experiências traumáticas que marcaram a história recente de diversos países da América Latina, muitos documentários têm se construído a partir de imagens/sons e rastros de histórias e memórias reencontradas, sobre as quais desenham suas narrativas. Neste processo, tanto se aproximam objetiva e duramente dos momentos e fatos que mobilizam suas obras, como investem na expansão da subjetividade, no relato fragmentado, na narrativa rarefeita. E, ainda, em propostas que circulam pelas diversas faixas destes dois extremos, multiplicando, deste modo, as possibilidades narrativas do documentário contemporâneo que se aninha neste nicho. Tal produção oferece, pela largueza das suas ambiguidades, um espectro significativo de abordagens. Estas têm contribuído para uma percepção cada vez mais aguda da importância dos documentários na consolidação de uma rede que busca reconstituir este período da história recente da América Latina. Também, em um processo que se dobra sobre esta própria produção, tem significado um esforço de estilo e autoria que provocam debates, tais como faz Piedras (2014), ao questionar os já clássicos "modos" de documentário propostos por Nichols (2005), considerando-os inadequados às especificidades de uma história e território tão particular. É, portanto, este quadro que nos faz aqui destacar dois documentários contemporâneos - Acácio, de Marília Rocha (Brasil, 2008) e El retrato postergado, de Andrés Cuervo (Argentina, 2009) - que se debruçam sobre a memória. Nosso propósito é discutir suas construções narrativas. Interessa-nos considerar um movimento que, em sintonia à cultura da memória e à valorização da subjetividade, desvela uma estratégia que problematiza a relação conflituosa entre o passado e o presente, justamente porque cada filme investe, por caminhos diferentes, na manutenção da tensão entre a ausência e a presença. Um procedimento pautado pelo enlace íntimo entre o realizador e a narrativa - no caso de El retrato postergado - e um tanto mais distante em Acácio. Escolhas que não excluem a percepção de narrativas da ausência que, paradoxalmente, esvaziam a presença conquistada pelas imagens e sons de arquivo (El retrato...) e também em gravações (Acácio). Este conflito - presença e ausência - reverbera, particularmente, a carta não enviada de Henri Lefebvre ao poeta e ensaísta Octavio Paz, publicada como preâmbulo de uma de suas obras. Nesta, Lefebvre interroga Paz sobre que estranhas presenças e que enigmáticas ausências este invoca em seus textos sobre os labirintos do amor e da solidão (2006, p. 11). E, continua interrogando-o, se por acaso seriam símbolos, imagens, recordações ou representações. Caso fossem estas últimas, a quem ou o que estariam representando? - indaga, ainda, confessando já não poder mais atravessar a solidão do seu próprio tempo e também seu labirinto particular, sustentado, até ali, pela via absoluta e reta da razão. Uma postura que o leva a buscar, em seu propósito de contribuir para uma teoria da representação, estratégia que supere a análise pautada na relação "presença-ausência", em que se busca consolidar um dos fenômenos, eliminando o outro. Trata-se, então, de compreender as possibilidades da representação e localizar onde está o poder sedutor do saber, da vivência, da arte. Como nos perguntamos em relação a Acácio e El retrato postergado. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. "O narrador". In Textos Escolhidos. São Paulo: Abril Cultura, 1983.
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