ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | O território das imagens: espaços da elite e filmes da quebrada |
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Autor | Vitor Zan |
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Resumo Expandido | O território das imagens aqui concebido consiste em um vasto campo de observação que investiga diferentes tipos de relação entre territórios e imagens, desde a ancoragem geográfica da produção e circulação de imagens, passando por obras em que tensões atreladas ao território ensejam propostas estéticas originais, até aquelas que atribuem maior autonomia às suas figurações (ou ao seu universo diegético) e que tendem a desvincular-se de seus contextos a fim de esquadrinhar territórios propriamente figurais.
Nesta comunicação, a ênfase é dada a filmes que se engajam em territórios urbanos e elaboram poéticas cinematográficas singulares por meio da articulação dessas duas polaridades (autonomia x referencialidade), na tentativa de atualizar, igualmente, relações entre estética e política. É o caso de A cidade é uma só? (2011), de Adirley Queirós; Um lugar ao sol (2009), de Gabriel Mascaro e O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça Filho. Pretende-se, primeiramente, delinear brevemente a forma como os filmes estabelecem seus territórios, o que envolve tanto o recorte, a apropriação e a ressignificação do espaço quanto estratégias que embora não sejam diretamente ligadas ao espaço físico, contribuem para constituir a territorialidade do filme, como a performance das personagens, a progressão narrativa e a montagem. A partir das características observadas, os filmes serão postos em perspectiva, tanto com relação a outras obras recentes quanto com relação ao cinema moderno brasileiro. Trata-se de investigar, através dessa mirada "geopoética", o que há de novo nesses filmes do dito "novo cinema brasileiro". A cidade é uma só? entremeia documentário e falso documentário em sua evocação da esquecida história da cidade-satélite de Ceilândia. A complexidade dessa estratégia é indício de uma nova vertente da cinematografia proveniente da periferia, em que são renovadas não apenas estéticas fílmicas vigentes, mas também formas usuais de representar o território periférico, o que permite com que seus filmes não somente participem mas sejam premiados em festivais nacionais e internacionais. Esse fenômeno, que ecoa nos filmes de Affonso Uchoa e André Novais, está estreitamente ligado a aspectos territoriais internos e externos aos filmes. A cidade é uma só? será cotejado com a produção dos coletivos de vídeos populares, ativos desde os anos 1980, e também com a tradição ficcional que se esforça para por em cena locais e personagens periféricos. Um lugar ao sol precede uma série de experiências documentais recentes que busca retratar espaços da elite, em particular o da moradia, como se nota nos curtas Vista mar e Câmara escura. Historicamente, essa iniciativa se fez sobretudo por filmes de ficção, que apesar de dedicados a remodelar simbolismos do território urbano, poucas vezes o escrutinaram, em seu aspecto mais concreto, com o olhar clínico impresso por Gabriel Mascaro em Um lugar ao sol. Uma das exceções a essa tendência é O som ao redor, em que tensões próprias à convivência urbana são apresentadas juntamente a pormenores presentes nos sons e espaços da vida pública e privada, como quando as grades de segurança são traspassadas por ruídos inconvenientes, ou quando uma porca é focada no alto da cobertura do edifício Castelo de Windsor, ou ainda na cena em que uma das personagens reencontra vestígios de sua vivência nos muros da casa em que morou e que está prestes a ser demolida. |
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Bibliografia | ALVARADO, Manuel (org.); KING, John; LOPEZ, Ana. Mediating Two Worlds: Cinematic Encounters in the Americas. BFI, 1993.
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