ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Ocupa Câmara Rio - um modo de organização |
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Autor | Diego Blanco de Amorim |
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Resumo Expandido | O presente artigo pretende analisar a relação entre a ocupação da câmara municipal do Rio de Janeiro, em agosto de 2013, durante as Jornadas de Junho, com a utilização de novas plataformas digitais. Algumas perguntas perpassam essa análise: Em que medida, essa ocupação é um microcosmo de uma mudança política e estética dos movimentos sociais contemporâneos? Como as novas tecnologias deram suporte à ocupação? Quais são as características do processo de subjetivação e da criação de narrativas derivadas dessas práticas?
As fontes de pesquisa e de informação são baseadas em vídeos capturados durante o próprio movimento, produzidos por diversos coletivos de mídia independente e por manifestantes autônomos. Estes foram utilizados na realização de um documentário, intitulado “Ocupa Câmera Rio”, que ainda está sendo montado junto à um dos participantes da ocupação e tem sido essencial para aprofundar o entendimento do mesmo. Além dos registros audiovisuais, inúmeros documentos foram levantados com os próprios manifestantes, que vão desde escritos pessoais publicados nas redes sociais a documentos produzidos durante os dias de ocupação. É importante ressaltar que uma parte considerável dos vídeos coletados foi capturado via streaming através de câmeras de celulares. O material se armazenou na nuvem do twitcast ( programa de armazenamento, em nuvem, do software de transmissão), tendo um tempo limitado de permanência nesse canal, devido ao apagamento automático do mesmo- o que de fato não aconteceu, pois se conseguiu fazer antes o download desses arquivos. Nesse sentido, o modo como os vídeos foram produzidos se caracteriza por um processo frágil e precário de reprodução e armazenamento, que de certo modo confere um grau de efemeridade às imagens. Deste modo, parece haver uma emergência em discutir a preservação desses documentos audiovisuais para que se constituam como registro histórico de um movimento que tende a cair no esquecimento público. Nesse sentido, outro fator fundamental para a compreensão do movimento é a presença em tempo real dessas câmeras. Os celulares conseguiam transmitir a ocupação “ao vivo” para quem tivesse acesso ao link na internet. Milhares de pessoas acompanhavam de casa e podiam interagir simultaneamente com o transmissor, fazendo afirmações e perguntas através de posts no twitcast. Essa dinâmica não só resignificava o modo de se fazer uma cobertura alternativa aos meios tradicionais criando novas narrativas, como também se constituía como uma espécie de arma e contra prova diante de qualquer abuso do poder institucional. Além de ser uma ferramenta de mobilização, pela rapidez com que se conseguia propagar os acontecimentos desse evento. Além disso, algumas características permeiam esta ocupação inserindo-a num contexto mais amplo de transformações do modo constitutivo do ativismo político contemporâneo. Estas parecem ser a descrença nos meios institucionais tradicionais, a indefinição ideológica, a mistura de vetores sociais, a falta de hierarquização, o uso constante das redes sociais e de dispositivos tecnológicos, a espontaneidade organizacional e a necessidade de tomadas de decisões coletivas, pautadas pela internet e por assembléias locais. Aqui, no entanto, se questionará até que ponto essas características se alinham de fato com as práticas dessa ocupação. |
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Bibliografia | BENTES, Ivana. As novas formas de lutas pós-mídias digitas. Lugar Comum: estudos de mídia, cultura e democracia. Rio de Janeiro, n28, pp. 71-80. 2009.
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