ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | A primeira pessoa em Helena Solberg |
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Autor | Karla Holanda |
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Resumo Expandido | Helena Solberg dirigiu quinze filmes em cerca de cinquenta anos de carreira. Esta comunicação se deterá em dois documentários marcantes de sua trajetória. O primeiro é A entrevista (1966), curta metragem montado com o áudio de entrevistas de mulheres de classe média alta, abordando o papel da mulher na sociedade. O filme foi muito pouco visto e discutido no Brasil. Com considerável parte de sua produção realizada nos Estados Unidos, país onde morou por três décadas desde 1971, a cineasta realiza, em 1995, Carmen Miranda: Bananas is my business, longa metragem sobre a vida da cantora-mito, que lhe reaproxima do Brasil. O filme é, provavelmente, o mais conhecido de toda sua obra (TAVARES, 2014).
Em A entrevista, encontram-se mais fortemente explícitas preocupações do movimento feminista que apenas começavam a aflorar, com temáticas ligadas ao interesse das mulheres, como trabalho, filhos, aborto, inserção na política, construção de papeis sociais, etc. O material sonoro, captado à parte com a própria diretora operando um gravador Nagra, é explorado de maneira inédita no documentário brasileiro até então – diversas vozes anônimas constituem um discurso plural e contraditório dos dilemas enfrentados pelas mulheres na sociedade, afirmando a diversidade de pensamento e opiniões dentro de um mesmo grupo. Vinte e nove anos depois, Solberg realiza Carmen Miranda: Bananas is my business. Entre um filme e outro, percebe-se a crescente presença da diretora na narrativa, aspectos da vida da personagem são relacionados à própria vida de Solberg. O filme inicia com imagens da multidão acompanhando o enterro da cantora, enquanto a diretora diz que seus pais não permitiram que ela, ainda adolescente, acompanhasse o cortejo – como esse, muitos outros exemplos de intervenção na primeira pessoa. Se em A entrevista, o desejo de auto-inscrição já se insinua, uma vez que a diretora, pertencente à mesma classe social das mulheres que entrevista, também possui os mesmos dilemas das entrevistadas, em Carmen Miranda: Bananas is my business ele se revela cristalino. No intervalo entre esses dois filmes, Helena dirigiu outros dez, boa parte deles tratando de questões feministas. Renov observa que entre os anos 1970 e 1990 há uma efusão de subjetividade nos documentários e acredita que isso se deve ao clima cultural do período, caracterizado pelo deslocamento das políticas dos movimentos sociais pelas políticas de identidade. E o que contribuiu “para essa mudança radical foi o movimento feminista, cuja reavaliação das estruturas políticas alternativas anteriores sugeriram que as desigualdades sociais persistiam” – as mulheres e as questões que lhes importavam receberam pouca atenção. Com isso, os movimentos ajudaram a fundar uma era em que questões pessoais tornaram-se conscientemente politizadas (1999, p. 89). Atendo-se a esses dois filmes tem-se oportunidade para se discutir, através de elementos recorrentes na obra de Solberg, a autobiografia e a questão de autoria – existe uma autoria feminina? |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. A morte do autor. In: O Rumor da Língua. São Paulo: Martins
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