ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | ARCOS ELÍPTICOS E FOCALIZAÇÃO DO OLHAR EM AMER |
|
Autor | João Paulo Feitoza Clementino Palitot |
|
Resumo Expandido | Na narrativa literária, cinematográfica ou em outras narrativas, o recurso de omitir de propósito uma informação que pode ser facilmente compreendida e identificável devido a um contexto preestabelecido, é cognominado elipse.
No cinema o uso do artifício parece que lhe é intrínseco. O cineasta belga Jacques Feyder escreveu que “no cinema, o princípio é sugerir”e, não à toa, diz-se que o cinema é a arte da elipse. Estudaremos o filme belga Amer, que utiliza as elipses como arcos principais e pontos de viradas na narrativa; fugindo das elipses mais utilizadas em filmes de longa metragem, os diretores reproduzem uma maneira original e diferente de transformação temporal. Ao manipular as imagens gravadas, adicionando efeitosde pós produção, os diretores criam a passagem da transformação corporal da menina Ana, passando pela adolescência no primeiro arco elíptico e terminando na idade adulta com o segundo arco elíptico. Amer é um filme homenagem ao gênerogiallo;famoso na década de 70/80 agora o gêneropermanece fora dos grandes núcleos de produções, feito por jovens cineastas que tentam reavivar o estilo e dar mais renome ao giallo. Os diretores Forzani e Cattet,conseguiram elevar o estilo na atualidade trabalhando o gênero nos seus dois filmes Amer(2009), e A estranha cor da lágrima de seu corpo(2012). Na comunicação proposta, voltamos os olhos para o primeiro longa-metragem da dupla Amer, procurando estudar a estrutura das elipses e a importância do olhar(o olho físico) para o filme, e tentando rastrear motivos recorrentes no gênero, como a perseguição, a luva de couro e mulheres seminuas. Forzani e Cattet adicionam o close dos olhos como parte fundamental para o longa. Percebemos no filme elipses de estruturaque são motivadas por razões dramáticas e as elipses de conteúdo que são motivadas por questões de censura social. Nos debruçaremos sobre as elipses do filme, tomando por base a noção de “imagem-cristal”, que, segundo Jacques Aumont "não se apresenta, formalmente, como colagem ou montagem, mas é seccionada pela dupla ação do tempo no interior dela mesma"(AUMONT, 2002, p. 243).Tomando por base Gérard Betton (1987), buscaremos nos aprofundar sobre o poder de escolha das imagens na montagem, com atenção à exclusão dos tempos mortos. Vale aqui lembrar Betton, quando o autor afirma que "oplano de corte,que permite interromper a ação sem qualquer problema pararetomá-la posteriormente, élargamente utilizado paracontrair o tempo, para reforçar a intensidade das idéias, evitandoassim o supérfluo, e também para dar a entender algo sem que seja necessário exprimi-lo diretamente"(BETTON, 1987, p. 17). No filme percebemos com clareza os planos de corte, que evidenciam a transformação corporal da personagem Ana, que após um trauma de infância precisa lidar com as transformações corporais e de caráter. Tendo conhecimento que elipse já é um tema bastante estudado, vislumbro que o filme em questão tenha utilizado com maestria uma característica intrínseca ao cinema e que já fora bastante exploradas, porém, ainda com novas possibilidades de ser manter inovador. Outro fator de relevância em Amer são os olhos, que aparecem em primeiro plano em grande parte da projeção. Pretendo estudar a importância de filmar os olhos no gênero giallo, que, por ser um gênero de buscas e perseguições, sempre tem um objeto a ser observado e vigiado até o momento ápice da perseguição. O olhar em primeiro plano indica que o espectador está sendo visto, como a vitima. Demonstraremos como a escolha de planos, sejam eles para reduzir um grande tempo realou a seleção de olhares tem o grande alcancena narrativa cinematográfica. Os diretores ao optarem gravarparte do filme sem som direto, utilizando a fotografia de cada frame, criam uma forma original de se fazer cinema. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques et. al. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.
|