ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Corpo e subjetividade: o ator entre documentário e ficção |
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Autor | Amaranta Cesar |
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Resumo Expandido | “Eu não aceito não ter feito eu mesmo o meu corpo”. A terrível frase de Antonin Artaud abre-se para o que constitui o trabalho do ator: engajar o corpo em uma operação simbólica que pode reverter-se na questão do sujeito, eventualmente com grande violência. O ator frequentemente acumula os adereços da identidade e os resíduos da aparência, apresenta efígies mais ou menos lastreadas de existência, às vezes se encarrega de manifestar o fundo de indeterminação que assombra o corpo” (BRENEZ, 1998, p. 265). Deslocadas para o fértil terreno do documentário brasileiro contemporâneo, as inspiradoras formulações de Nicole Brenez alimentam reflexões sobre o engajamento do corpo do ator (e/ou não-ator) em formas e processos cinematográficos que se nutrem de procedimentos imbricados entre a ficção e o documentário. Como ponto de partida, perguntamo-nos em que medida as tensões entre o sujeito (os processos de subjetivação) e o filme apresentam-se no documentário distintamente da ficção. Se na ficção o corpo do ator está engajado em uma operação simbólica, no documentário, esse engajamento, ao que parece, dá-se de modo mais complexo e negociado: o corpo em terreno documental, além de discurso, é (talvez sobretudo) presença. De que modo particular corpo e operação simbólica estão engajados, então, nos documentários híbridos? De que maneira a tensão entre o corpo que filma e o corpo que é filmado - considerada essencial para uma possível distinção entre documentário e ficção (CAIXETA, GUIMARAES, 2008) - oferece um quadro particular para o trabalho do ator nesse campo de procedimentos fílmicos híbridos que se expande notavelmente no Brasil?
Através da análise não apenas das formas mas também dos processos de filmes que se equilibram nas fronteiras entre o documentário e a ficção, tais como Iracema, uma transa amazônica (Jorge Bodanzki e Orlando Senna, 1976), A vizinhança do tigre (Affonso Uchoa, 2014) e Branco sai, preto fica (Adirley Queirós, 2014), pretendem-se esboçar notas conceituais sobre o trabalho do (não-?) ator no documentário contemporâneo, enfrentando as interrogações sobre as implicações do emprego de tal noção articulada à prática documental. Trata-se, ainda, de uma ocasião para testar a atualidade de conjuntos de categorias de ampla aplicação no campo, a saber: corpo, discurso e subjetividade; alteridade, diferença e identidade. |
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Bibliografia | BRENEZ, Nicole. De la figure en général et du corps en particulier : l’invention figurative au cinéma. Paris, Bruxelles : De Boeck Université, 1998.
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