ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Da Poiese Paratextual: Apropriação e Infinitude em Game of Thrones |
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Autor | Thiago Falcao |
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Resumo Expandido | Gérard Genette, em 1987, publicou um tratado no qual ele se debruçava sobre as convenções literárias e editoriais acerca do mundo do texto. Sua preocupação em nada ultrapassava as fronteiras da materialidade do livro, sendo relativa a títulos e prefácios, dedicatórias e nomes dos autores. Por mais que estes possam parecer triviais ao leitor, Genette é nada menos que genial, ao se debruçar sobre o aspecto limítrofe entre diegese e materialidade, de forma que estes para-textos – porque não fazem parte do texto central – são cruciais, determinantes, para a experiência da obra.
À medida que discorre sobre os elementos limiares a uma obra, e como estes enquadram a experiência desta, Genette cria uma subdivisão arbitrária na qual os peritextos são paratextos internos a uma obra – apêndices ao volume, textos que fazem parte da materialidade do meio – enquanto os epitextos, de forma dedutível, são paratextos externos à obra. Para o autor (GENETTE, 1997), reviews, entrevistas e críticas seriam importantes para a fruição, mesmo não estando contidas em forma de adendo. Ainda assim, mesmo em seu capítulo a respeito de epitextos públicos (1997, p. 344), a ideia de apropriação não é contemplada. Esta só há de ser encontrada em 1999, quando Peter Lunenfeld se apropria da noção de paratexto em seu ensaio a respeito da estética do inacabado como sendo a estética da cultura digital. Evocar o ensaio de Lunenfeld (1999) é interessante porque o autor questiona a centralidade e a tangencialidade dos textos como padrões desenvolvidos de acordo com a indústria editorial anterior ao fenômeno da convergência midiática; ao passo que ele crê que, graças ao modo como os conglomerados de entretenimento gerenciam o conteúdo por eles produzido, "é impossível distinguir entre ele [o paratexto] e o texto" (1999, p. 14). Mia Consalvo (2007), por sua vez, se apropriou da noção de Genette com um esforço mais funcional que o de Lunenfeld. Sua ideia é de que a noção de paratextos deve ser utilizada não apenas para discorrer acerca de textos institucionais gerados a respeito de uma obra. Em seu argumento, walkthroughs direcionados a jogos eletrônicos se transformam em documentos de legitimidade reconhecida, acessíveis nos mais diversos lugares, desde fóruns não oficiais a respeitadas revistas do gênero. Com base nesta noção ampliada da ideia de paratexto, e tendo em mente as problematizações que ela carrega consigo – sobretudo acerca da noção de cânon em um texto – o presente artigo tem por intuito se aproximar de duas práticas interacionais relacionadas ao universo ficcional da franquia Game of Thrones (HBO, 2011) e identificadas nos comentários dos vídeos a respeito da série postados no site de redes sociais Youtube; a (1) primeira consiste na criação de perfis que encenam os comportamentos dos personagens da saga, e que interagem, de acordo com uma apropriação de seus scripts, entre si. A (2) segunda prática consiste em revelar, nestes comentários, informações falsas a respeito do rumo para o qual caminha a narrativa – ou seja, falsos spoilers que buscam enganar os visitantes que não possuem conhecimento dos rumos da série. A partir deste mapeamento e aproximação, nosso intuito é compreender que processos sociais são contemplados neste tipo de relação entre espectador/leitor e texto, e como estas práticas de gênese paratextual, ainda que discutivelmente tangenciais ao texto central do universo ficcional, são responsáveis por enquadrar o consumo posterior deste. |
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Bibliografia | FALCÃO, Thiago. Paratextos, Programas de Ação. In: Erick Felinto (Org.). Cibercultura em Tempos de Diversidade: Estética, Entretenimento e Política. Rio de Janeiro: Anadarco, 2013.
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