ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Singularidade e o Cinema de Miriam Chaniderman |
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Autor | Maria Noemi de Araujo |
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Resumo Expandido | Discutir o singular no cinema de Miriam Chnaiderman através do dispositivo do testemunho, em "De Gravata e unhas vermelhas" (2014). A noção de Testemunho literário inventada por Primo Levi, visando que não se repita ou não seja esquecida a violência dos campos de concentração, foi apropriada pela Psicanálise de orientação lacaniana nos anos 1960, como um “dispositivo” discursivo para possibilitar ao próprio psicanalista falar a seus pares acerca do seu processo analítico. Em processos de reconceituação, ou reapropriação de conceitos, a noção de filme-testemunho será aqui pensada como dispositivo, usado para discutir a sexualidade como multiplo. Retomando a ideia foucaultiana de dispositivo como estratégia de poder e de saber, Giorgio Agamben recolocou o uso dessa noção como processo de subjetivação para tratar questões do contemporâneo. Nesse documentário, o uso feito por Chnaiderman do cenário e do figurino alegres e coloridos rompe com uma estética melancólica, presente na maioria de seus filomes. Em "Recantos do passeio silvestre"(2006) radicaliza essa estética no cenário melancólico do personagem José Agrippino. Após uma longa convivencia com o diagnostico de esquizofrenia, Agrippino são se move; o filme não o mobiliza. O filme é paraliza na medida em que ele não apresenta-lhe nenhuma saída. Diferentemente, em "Procura-se Janaina"(2007) a personagem, se move, mesmo com diagnóstico de autismo, ela testemunha algo em direção à linguagem cinematográfica. Naquele instante, Janaína permite a entrada do cinema na sua vida como uma possibilidade de linguagem. O que não ocorre com Agrippino. "De Gravata e unhas vermelhas", possibilita a cada um dos seus dezesseis personagens se movimentar em sua teatralidade para construir, pensar e inventar um testemunho sobre a sexualidade no contemporâneo, como algo singular implicado em um modo de gozar. Cada personagem, a seu modo, usa esta linguagem como um recurso para falar das suas invenções em relação ao corpo, a sexualidade, aos costumes, crenças e valores. Um corpo imaginado, se detém na responsabilidade de cada um pelo seu testemunho, pelo seu ato de dar um destino único para o seu próprio gozo. Por tratar-se de uma interlocução possível entre o cinema e a psicanálise, o filme não será discutido como um retatar a realidade dos tranexuais, mas como algo que apresenta dúvidas, questões sobre os modos de produção subjetivas a cerca da sexualidade contemporânea. Embora ancorado no tom da criatividade, a narrativa do filme mostra como os personagens buscam uma “não nomeação” para aquilo que fazem dos seus corpos. |
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Bibliografia | Agamben, G. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. Aumont, J. À quoi pensent les films. Paris: Séguier, 1996.
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