ISBN: 978-85-63552-17-4
Título | Uma crítica narratológica sobre a microssérie Capitu |
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Autor | Alexandre de Assis Monteiro |
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Resumo Expandido | O romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, e sua adaptação para a televisão por Luiz Fernando Carvalho, Capitu, possibilitam uma rica leitura narratológica, já que se trata de uma história que conta outra história. Dessa maneira, elementos como tempo, espaço, narrador, narrativa não se relacionam apenas entre si, mas, mais complexamente, se relacionam também com os mesmos elementos, ditos em outras instâncias, mas dentro da mesma história, criando uma rica teia de possibilidades de leitura que levam leitores, em todos os níveis de criticidade, a desenhar seus perfis sobre o protagonista.
O que pretendemos examinar é o funcionamento dessa teia de possibilidades, a partir de um exame minucioso sobre as imagens que se podem captar do personagem narrador, Dom Casmurro, e da temporalidade sobre a qual estão colocados os seus discursos. Na percepção de Gustavo Bernardo (2010), a narrativa, ao criar diálogos usando o mesmo personagem e unir, no mesmo espaço, personagens que viveram em épocas distintas, quebra completamente a linha do tempo. Essa linha é totalmente fragmentada em Capitu. Para usar os termos propostos por Todorov (1971), Dom Casmurro e Capitu são narrativas repletas de encadeamentos e encaixamentos, com justaposições e inclusões de fatos diversos no meio da narrativa. Em O discurso da narrativa, Genette (1979) coloca, logo de início, questões de ordem, processo em que defende que a narrativa é uma sequência duplamente temporal. Nela, existem, naturalmente, um tempo do significado e um tempo do significante ou o tempo da história (diegese) e o tempo da narrativa (discurso). Ou seja, há o tempo da coisa contada e o tempo da narrativa. Na televisão, os “problemas” de extensão-fragmentação-expansão constituem um caso particular, já que, além da exibição ser seriada, haver um enorme número de pausas para intervalos comerciais, multiplicando o número de suspensões e reatamentos e exigindo uma difícil estratégia de temporalização entre os elementos de coesão do romance e da adaptação. A temporalidade dos discursos seria o principal fator de dissimilaridade entre as obras. A extensão típica da minissérie brasileira se prestaria, pois, admiravelmente à transposição de romances longos (BALOGH, 2004). Dom Casmurro não é um romance longo, se pensarmos que há um sem-número de romances com o dobro, o triplo da extensão. E o gênero microssérie também não é longo, se compararmos, por exemplo, com uma minissérie como Os maias (CARVALHO, 2001), que foi exibida em 44 capítulos e em mais de dez semanas. Seguindo o pensamento de Balogh e Sobral, a inferência que se propõe é que a extensão típica da microssérie se prestaria admiravelmente à transposição de romances curtos. A partir do romance em prosa Dom Casmurro e de sua adaptação para a televisão, realizada por Luís Fernando Carvalho, investigaremos a teoria narratológica e a sequência ou ruptura da linha de tempo – amplamente discutido na mídia - propondo-nos, então, a examinar o personagem narrador e seus discursos bem como os entremeios de uma teia narratológica capaz de quebrar e gerar novas expectativas no público leitor e ainda sobre a crítica especializada, em permanente estado de “construção” sobre a obra de Machado de Assis. Referências: ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ed. Ática, 2000. BERNARDO, Gustavo. Machado de La Mancha. In: O livro da metaficção. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2010. CARVALHO, Luiz Fernando. Os mais. [Microssérie]. Rio de Janeiro, 2007. GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa - ensaio de método. Trad.: Fernando Cabral Martins. Lisboa: Arcádia, 1979. TODOROV, Tzvetan. A poética da prosa. Lisboa: Ed Porto &0, 1971. BALOGH, A.M. Conjunções – disjunções – transmutações: da literatura ao cinema e à TV. São Paulo: Annablume, 2004. |
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Bibliografia | Dissertação de mestrado: Capitu: olhares para uma narração oblíqua. |